Embora exista supostamente uma Cristã e outra Judia, na pratica elas se misturam e as explicações nos textos que lhe são próprios, quando não falam nos jargões que lhe são característicos, mas tentam seguir um método mais moderno, descritivo, para quem não é "iniciado", gostam de citar Gênesis 2,9, onde a Bíblia explica como o homem foi formado:
"And out of the ground made
the LORD God to grow every tree that is pleasant to the sight, and good for
food; the tree of life also in the midst of the garden, and the tree of knowledge
of good and evil."
"E o Senhor Deus fez brotar da terra toda qualidade de árvores agradáveis 'a vista e boas para alimentação, também a árvore da vida no meio do jardim, e a arvores do conhecimento do bem e do mal."
Logo em seguida, apresentam uma representação,
cujo nome também pode ser Arvore Filosófica,
ou Arvore de Sefiroth, que pode ter aspectos
complicadíssimos, agravados pelo uso do Hebreu e aparece o seguinte,
à esquerda ou mais palatável à direita :
Como a Igreja decidiu "matar"
os aspetos supersticiosos do paganismo, quando o incorporou, agravado pelo fato
de que ia para a fogueira quem se desviasse para este lado, os traços
da cabala praticamente desapareceram.
Melhor, ficaram dormindo um longo tempo para surgir no fim da Idade Media, quando
a Inquisição foi perdendo força e o Iluminismo começou
seu domínio, a partir do século 15, e com o advento da Alquimia
que eventualmente deu origem à Química, no século 16 e
17, e que teve, talvez, seu apogeu, nesta época, ainda que como "Ciência
Oculta".
Um problema para quem se debruça sobre estes assuntos com olhos de ver
é que invariavelmente os autores se apresentam como donos de uma sabedoria
anterior ao nascimento de Cristo, milenar, que supostamente teria sido passada
ou oralmente ou secretamente por iniciados ao longo dos séculos.
É o pior tipo de mentira que existe, pois é uma meia verdade.
Realmente a verdadeira origem na noite dos tempos da Cabala judia, ou cristã,
pode ser encontrada na Tétrade Pitagorica, fruto de sua filosofia de
números descrita por Platão em Timaeus.
Na sua concepção inicial, Pitágoras propôs o seguinte,
não se sabendo de onde tirou estas idéias, mas já que Timaeus
foi escrito em torno de 410 A C, por Platão, estas idéias efetivamente
datam de um período pelo menos 500 anos antes de Cristo:
A figura da esquerda apareceu nos escritos de Robert Fludd, mas ou menos em torno de 1625 e supostamente foi tirada de Francesco Giorgio, de sua obra De Harmonia Mundi, de 1525. A figura da direita foi tirada de Timaeus, mas há que se lembrar que os números eram ligados a simbolismo para Pitágoras.
A tétrade é um símbolo composto de 10 pontos colocados num triangulo apontando para cima. Era um padrão sagrado para a escola de filósofos que seguiam os ensinamentos de Pitágoras, que viveu no século 6 A C. Eles usavam a tétrade para jurar, da mesma maneira que se faz hoje com a Bíblia nos lugares onde tradicionalmente isto acontece.
O juramento pitagorico, que foi citado na Renascença pelo mágico Cornelius Agrippa, diz o seguinte:
" Eu, com mente pura pelo numero
quatro juro;
que é sagrado e a fonte da natureza eterna,
originador da mente..."
Alguns historiadores ou iniciados afirmam que o juramento era feito em direção àquele que outorgou a tétrade para as gerações vindouras," que podiam ser interpretadas como sendo O Monada, ou o mestre Pitágoras. Provavelmente os três - Deus, Pitágoras e a tétrade - estavam na mente do individuo que fazia o juramento. Porem, alguns especialistas modernos acreditam que o juramento era focalizado na tétrade mesmo, como sendo o mapa ou o plano da criação.
No caso da figura de Robert Fludd, no seu texto dizia que a, ou o, Monada, no vértice superior, (luz) gera a Díade, a Tríade e a Tétrade, que se apóiam sobre o "terreno dos poderes criativos", na figura identificados com os famigerados "4 elementos", Terra, Água, Ar e Fogo, que são mencionados praticamente em tudo que lida com ciência oculta.
Tecnicamente, a progressão 2, 3, 4, (Diad, Triad, Tetrad) pode se expandir indefinidamente.
Talvez aqui não seja o melhor local para se discutir, mas simplificando um assunto extenso, Pitágoras não enxergava os números com o conceito que temos hoje, pelo menos como são usados para Ciências Exatas para fazer cálculos. Ele atribuía valores e interações simbólicas e identificava neste triangulo duas tétrades, uma de soma (1 + 2 + 3 + 4 = 10) e uma de multiplicação (1 + 2 + 3 + [2x2] + [2x2x2] + [3x3] = [3x3x3]). É mais fácil olharmos acima o triangulo da direita no diagrama explicativo.
O numero 1 no nível mais alto
da tétrade de multiplicação é o ou a Monada, unidade
simbolizando o perfeito.
De acordo com uma figura proeminente nestes assuntos Theon de Smirna, o 1 contem
os princípios de "razão, ou relação, do limite
e do ponto", seja o que seja que isto signifique. O 2 e o 3 no segundo
nível são números "primos, não podendo ser
decompostos e medidos apenas para a unidade e são consequentemente números
lineares." Que não precisa muita imaginação para identificar
a Santíssima Trindade e o juramento "por quatro" é que
no fundo a Santíssima Trindade é quatro, como muito bem explicou
Jung, sendo este quarto elemento o feminino.
Voltando ao triangulo da multiplicação, o terceiro nível
contem os números 4 (2 x 2) e 9 (3 x 3), que são os primeiros
números ao quadrado (números criados pela multiplicação
do numero por si mesmo). Eles representam a superfície geométrica
do plano. O quarto nível contem os números 8 (2 x 2 x 2) e 27
(3 x 3 x 3), que são os primeiros números frutos de elevação
ao cubo ou terceira potencia (números criados pela multiplicação
de si mesmos duas vezes). Os números cúbicos representam o sólido
geométrico. Era feita a afirmação que a mais alta significação
era que todos os números que compunham a tétrade de multiplicação
somavam 27, que era o numero final do símbolo (1 + 2 + 3 + 4 + 8 + 9
= 27). Este autor, Theon, observou que com estes números Platão
constituiu a idéia da alma humana.
Uma coisa curiosa, que acho que vale a pena observar é que Platão foi praticamente o originador das concepções que criaram a idéia de alma, espírito, etc, conseqüentemente, ou facilmente, sugeridoras de vida após a morte, etc., etc., e Pitágoras é o pai, ou o avô, das idéias que culminaram no materialismo e no ateísmo.
Voltando ao simbolismo de números pitagorico, normalmente quando se escreve sobre a Tétrade, se esta referindo à tétrade da soma. A fim de se poder entender porque a Tétrade é considerada sagrada, é preciso levar em conta que os pitagoricos acreditavam que o universo inteiro é constituído de números, especialmente dos números 1 a 10, que dão origem a todos os números que baseiam nosso familiar sistema decimal. Para os pitagoricos, ainda, os números eram mais que meros indicadores de quantidade de valores agregados de algo, mas coisas ou deidades vivas, cada um com sua personalidade singular e poderes ocultos.
Acrescentando-se a isto a geometria, a coisa vai muito longe.
Recomendo a quem tiver interesse
na simbologia de números tomar conhecimento sobre como números
e especialmente relações geométricas foram usados na construção
de catedrais góticas, que são um monumento ao pensamento pagão.
Fiz um trabalho minucioso sobre a Catedral de Chartres onde discuto, ou melhor,
nego tudo isto, já que parto do
principio que numero não existe em lugar nenhum a não ser na cabeça
das pessoas e é fruto da limitação ou impossibilidade que
existe para nosso cérebro entender o mundo.
Continuando, por exemplo, o numero 5 representava o principio sagrado da justiça,
porque estava no centro exato da tétrade da soma, bem como no meio dos
números de um digito de 1 a 9, simbolizando por isto o equilíbrio
e a igualdade.
Para os pitagoricos não era meramente um símbolo, mas um ente
vivo, uma inteligência espiritual encarnando o principio ativo da justiça
em qualquer lugar que encontrasse expressão na face da terra ou no céus.
Era mais ou menos como a balança no símbolo da deusa justiça,
exceto que o cinco era ela própria e não meramente um símbolo.
O numero 6 era considerado o principio do sagrado matrimonio, uma vez que continha
a formula matemática 2 x 3 = 6. Dois era o primeiro numero feminino e
três o primeiro numero masculino. Sua união sexual era expressa
pelo processo de multiplicação, cujo produto obtinha mais que
qualquer original, como acontece com o aparecimento dos filhos produto dos casais.
O primeiro numero verdadeiro no sistema pitagorico eram o numero 3. Os pitagoricos
se referiam ao numero 1 como monada e ao numero dois como diad, ou duad. A monada
significava a unidade perfeita de tudo e a duad a raiz de toda a diversidade
através do universo.
Desta forma, a tétrade da soma continha dentro de si a monada, a duad, o primeiro numero impar verdadeiro, o primeiro numero par. Os números impares eram tidos pelos pitagoricos como masculinos e os impares como femininos, por razoes mais ou menos obvias ( paridades duas pernas, imparidades duas pernas mais pênis) O numero quatro em geral continha dentro de si todos os princípios da tétrade (1,2,3,4). É o menor numero que incorpora todas as partes para a existência manifesta no mundo e por esta razão é o numero do mundo material.
A teoria musical desempenhava um papel extremamente importante na filosofia Pitagorica. A tétrade simbolizava todas as divisões tonais da musica, por que na adição de 1 +2 +3 +4 podiam ser encontradas todas as consonâncias.
Quando a tétrade da soma era juntada em companhia da tétrade da multiplicação, combinadas elas eram consideradas capazes de representar todas as relações sobre as quais o universo inteiro fora construído, fossem estas relações musicais, geométricas ou aritméticas.
O homem era visto por Pitágoras como pleno de acordes musicais em harmonia com a musica das esferas. Para quem tem familiaridade com musica há que se observar que o acorde fundamental do homem, ou tom fundamental, sua terça maior, sua quinta e sua oitava.
No meu trabalho sobre Chartres discuto o que esta embutido na construção dela em termos disto e é uma coisa interessantíssima o quanto uma idéia relativamente simples desta pode sofisticar-se embutida numa construção como aquela.
Os cabalistas judeus foram fortemente
influenciados pela filosofia grega. Eles criaram uma versão própria
da tétrade usando as letras do Hebreu do Tetragrammaton (IHVH) - JAVÉ
- o nome divino de quatro letras. Quando inscrevemos estas quatro letras na
tétrade pitagorica e as somamos juntas, elas numeram 10 e compõem
o nome de Deus com 10 letras que Agrippa, outro personagem muito famoso de ciências
ocultas, chama de "O nome de Jehovah com 10 letras" no Livro II, cap.
13 de seu livro - Três livros de Filosofia Oculta. Este nome, traduzido
para caracteres latinos do hebreu, é:
I + IH + IHV + IHVH.
Daí, para a árvore de Sefiroth, foi um pulo dado calculo que nuns 100 anos, ou uns 200, no período que vai de Pitágoras até uns 100 A C, com a passagem pelos egípcios, que é outra historia, e deu no seguinte:
Traduzindo, os nomes em hebreu para cada posição na figura à direita:
1. Kether suprema coroa, vontade
inicial, anjo que trouxe isto para a terra
2. Chochma Sabedoria, semente de todas as coisas
3. Bina Inteligência, matrix superior
4. Chessed Amor, misericórdia, bondade
5. Gebura Severidade, poder de punição
6. Tiphereth generosidade, esplendor, beleza
7. Nezach resistência, vitória
8. Hod Magnificência, majestade
9. Jesod Base ou assento para todos os poderes criativos
10. Malkuth Reino ou localização de Deus
Que é, em Português, sinteticamente, o que esta escrito e representado nas duas primeiras figuras que apavora e parecem complicadíssimas (pior, poderosíssimas á primeira vista e olhares incautos).
Pouco falta a se acrescentar. O que esta representado em 2, 4 e 7 esta em oposição ao que esta representado em 3, 5 e 8 e no embate ou disputa e integração ou não esta o destino de quem esta envolvido.
A cabala propriamente é a compreensão pela meditação destes símbolos, que são interpretados pela matriz de significados abaixo, por exemplo, para o 10, Malkuth:
Nome Malkuth, o Reino (pronuncia
em hebreu, Mem, Lamed, Kaph, Vav, Tav
Imagem Mágica Uma mulher jovem, coroada e no trono
Situação na árvore: Na Base do Pilar do Equilíbrio
Texto Yetziraico: O décimo passo é chamado de Inteligência
Resplandecente porque é exaltado sobre toda cabeça e senta-se
sob re o Trono de Binah (ver 3). Ilumina os esplendores de todas as Luzes e
causa influencia que emana do Príncipe das Continências, o Anjo
Kether.
Títulos dados a Malkuth A ponte ou passagem. A passagem para a morte.
A ponte para a sombra da morte. A passagem para lagrimas. A ponte
Para a justiça. A ponte para a oração. A ponte para o jardim
dos céus. A mãe inferior. Malkah, a Rainha. Kallah, a noiva. A
virgem
Nome divino: Adonai Melekeh ou Adon há-Arets.
Arcanjo: Sandalphon
Coro de anjos: Ishim, Almas de fogo
Chakra Mundano: Olam há-yesodoth, esfera dos elementos
Experiência Espiritual: Visão do Anjo guardião Sagrado
Virtude: Discriminação
Vicio: Avareza. Inércia
Correspondência no Microcosmo: Os pés. O anus.
Símbolos: Altar do cubo dobrado. A cruz crista. O circulo mágico.
O triangulo da arte.
Cartas do Tarot: Os quatro dez:
Dez de bastão: opressão
Dez de Copas: Sucesso aperfeiçoado
Dez de espadas: Ruína
Dez de Pentateuco: Riqueza
Cor no Atziluth: Amarelo
Cor no Briah: Cítrico, oliva, castanho e negro
Cor no Yetzirah: Cítrico, oliva, castanho e negro, com dourado
Cor no Assiah: Preto, raiado de amarelo
Não vou detalhar, pois não estou a fim de ensinar ler Tarot ou que o uso seja para fins não os que tenho em mente, que é colocar às claras toda esta obscuridade que me parece supersticiosa e ignorante.
Para terminar, basicamente a cabala é praticada, alem da divinação com o Tarot, pela meditação em cima de cada símbolo da Arvore da Vida, que supostamente transmite, quando atinge seu grau maximo, iluminação e contacto com a divindade.
Com a ajuda do que esta aqui, me parece que fica accessível ler os manuais de Cabala que encontramos disponíveis, que omitem tudo isto para parecerem coisa que dá para se perceber, não são, e lembram, para mim, aqueles hábeis vendedores de poções que existiam e estão sumindo, nos mercadões que tinham supostamente uma cobra dentro de uma caixa fechada e atraiam as pessoas dizendo coisas fantásticas da cobra que iriam mostrar, mas que nunca mostravam, mas que atraiam multidões para as quais eles vendiam suas poções.
Jung foi exímio nisto...