Collected Works, Vol. 8
Excerto da publicação "O homem moderno em procura de uma alma" de C.G.Jung
Discutir os problemas ligados
com os estágios do desenvolvimento humano é uma tarefa extremamente
severa, porque significa nada menos do que desfolhar uma imagem da vida psíquica
na sua totalidade, do berço até o túmulo.
Dentro do contexto deste discurso tal tarefa pode ser executada somente nas
suas linhas mais gerais e precisa ficar bem entendido que nenhuma tentativa
será feita para descrever as ocorrências psíquicas normais
dentro dos vários estágios.
Vamos nos restringir, ao invés disto, para certos "problemas",
isto é, para coisas que são difíceis, questionáveis,
ou ambíguas; numa palavra, - questões que permitem mais de uma
resposta - e, alem disto, respostas que estão sempre abertas a duvida.
Por esta razão existirá muita coisa a que deveremos adicionar
um ponto de interrogação nos nossos pensamentos.
Ainda pior, existirão algumas coisas que teremos que aceitar como artigo
de fé, enquanto que uma ou outra vez, nós poderemos até
nos indulgir em especulação.
Se a vida psíquica consistisse somente de matérias de fato auto-evidente
- o que num nível primitivo ainda é o caso - nós poderíamos
nos contentar com um solido empirismo
A vida psíquica do homem civilizado, contudo, está cheia de problemas;
nós não podemos nem pensar nela a não ser em termos de
problemas.
Nossos processos psíquicos são feitos largamente por reflexões,
duvidas, experimentações, tudo o qual é quase estranho
ao inconsciente e à mente instintiva do homem primitivo.
É ao crescimento da consciência que devemos agradecer a existência
de problemas; eles são o presente de Danaan da civilização.
Somente com o abandono do instinto pelo homem - ele esta se opondo ao instinto
- que se cria consciência.
O instinto é a natureza e procura perpetuar a natureza, enquanto que
a consciência somente pode procurar cultura ou sua negação.
Mesmo quando nós nos voltamos para a natureza, inspirados pela expectativa
de Rousseau, nós "cultivamos" a natureza.
Enquanto estamos submersos na natureza, nós estamos inconscientes e vivemos
na segurança do instinto, que desconhece problemas.
Tudo que em nós ainda pertence à natureza foge de problemas, porque
traz duvida e em qualquer lugar que a duvida se instale existe a incerteza e
a possibilidade de maneiras divergentes. E, onde diversas maneiras parecem possíveis,
ali nós estamos abandonados da orientação certa do instinto
e somos jogados ao medo. Porque a consciência agora é chamada a
executar o que a mãe natureza sempre fez para suas crianças -
isto é, dar uma decisão única, inquestionável e
inequívoca. E aqui nós estamos sitiados pelo medo bem humano que
a consciência - nossa conquista de Prometeu - possa no fim não
ser capaz de nos servir tão bem como a natureza.
Problemas desta forma nos levam num estado de orfandade e isolamento onde nós
somos abandonados pela natureza e levados à consciência.
Não ha outra maneira aberta para nós. Somos forçados a
recorrer a decísões conscientes e soluções onde
anteriormente confiávamos nas mãos de ocorrências naturais.
Todo problema, portanto, nos. traz a possibilidade de abertura de consciência,
mas também a necessidade de dizer adeus para a inconsciência infantil
e crença na natureza.
Esta necessidade é um fato psíquico de tal importância que
constitui um dos mais essenciais ensinamentos simbólicos do Cristianismo.
É o sacrifício do homem natural, inconsciente, ser ingênuo,
cuja carreira trágica começou com a ingestão da maçã
no Paraíso.
A queda bíblica do homem apresenta o alvorecer da consciência como
uma maldição.
E na verdade, é sob este prisma que nós olhamos primeiramente
sobre todos os problemas que nos forçam para maior consciência
e nos separa ainda mais do paraíso da infância inconsciente.
Cada um de nos, de bom grado, entregaria seus problemas se possível eles
não deveriam, nem ser mencionados, ou melhor ainda, sua existência
negada. Nós desejamos fazer nossas vidas simples, certas e macias e,
por esta razão, problemas são tabus.
Nós queremos certezas, não dúvidas; resultados, não
experimentações - sem mesmo constatar que certezas somente podem
surgir através da duvida e resultados somente da experimentação.
A negação artificial de um problema não vai produzir convicção,
pelo contrario, uma conscientização maior e mais alta é
requerida para nos dar a certeza e a clareza que precisamos.
Esta introdução, longa como ela é, me parecia necessária
a fim de fazer clara a natureza do nosso assunto.
Quando nós temos que lidar com problemas, nós instintivamente
resistimos de tentar o caminho que leva através das trevas e da obscuridade.
Nós desejamos ouvir somente resultados inequívocos e esquecer
completamente que estes resultados somente podem ser trazidos quando nós
nos aventuramos nas trevas e de lá emergimos. Mas, para penetrar as trevas,
nos precisamos invocar todos os poderes de iluminação que a consciência
pode oferecer; como eu já disse, nos precisamos indulgir em especulação.
Porque ao tratarmos dos problemas da vida psíquica nós perpetuamente
tropeçaremos sobre questões de principio pertencendo ao domínio
privado dos mais heterogêneos ramos do conhecimento.
Nós perturbaremos e enraiveceremos o teólogo não menos
que o filosofo, o medico não menos que o educador, nós até
mesmo trataremos no campo do biólogo e do historiador.
Este comportamento extravagante não é devido à arrogância
mas à circunstancia de que a psique do homem é uma combinação
única de fatores que são ao mesmo tempo os assuntos especiais
de linhas de pesquisa de longo alcance.
Porque foi fora de si mesmo e fora da sua constituição peculiar
que o homem produziu suas ciências. Elas são os SINTOMAS da sua
psique.
Se, por esta razão, nos perguntarmos a inevitável questão,
"porque o homem, em obvio contraste com o mundo animal, tem, de todo, problemas?",
nós entraremos na intricada malha da confusão de pensamentos que
milhares de mentes incisivas têm tecido no correr dos séculos.
Eu não vou desempenhar o trabalho de uma Sisífe sobre esta obra
prima de confusão, mas tentarei apresentar simplesmente minha contribuição
para a tentativa do homem responder esta questão básica.
Não existem problemas sem consciência. Nós precisamos, por
esta razão, colocar a questão de outra forma e perguntar, "Como,
primeiramente, a consciência surge?".
Ninguém pode dizer com certeza, mas nós podemos observar crianças
pequenas no processo de se tornarem conscientes. Qualquer pai pode ver isto
se ele prestar atenção. E o que vemos é isto: quando a
criança reconhece alguém ou algo - quando ela "conhece"
a pessoa ou a coisa - então nos sentimos que a criança tem consciência.
Isto sem duvida, é também porque no Paraíso foi a arvore
do conhecimento que produziu tal fruta fatídica.
Mas, o que é reconhecimento ou conhecimentos neste sentido? Nós
falamos de "conhecer" algo quando nos conseguimos ligar uma nova percepção
para um contexto já existente, de tal maneira que nos temos na consciência
não somente a percepção mas partes do contexto também.
"Conhecer" é baseado, por esta razão, sobre a conexão
percebida dentre o conteúdo psíquico.
Nós não podemos ter conhecimento de um conteúdo que não
está ligado a nada, e nos não podemos mesmo ser conscientes dele
se estivesse nossa consciência ainda no seu baixo nível inicial.
Consequentemente, o primeiro estágio da consciência que nos podemos
observar consiste de meras conexões entre dois ou mais conteúdos
psíquicos. A este nível, a consciência é meramente
esporádica, sendo limitada à percepção de algumas
conexões e seu conteúdo não é lembrado posteriormente.
É um fato que nos primeiros anos da vida não existe memória
continua; no Maximo existem ilhas de consciência que são como simples
lâmpadas ou objetos iluminados nas profundezas da escuridão.
Mas estas ilhas de memória não são as mesmas que as conexões
anteriores que são meramente percebidas; elas contem uma nova e muito
importante serie de conteúdos que pertencem ao sujeito que percebe ele
mesmo, o tão chamado ego. Esta serie, como a serie inicial de conteúdos,
inicialmente é meramente percebida, e por esta razão a criança
logicamente começa por falar de si mesmo objetivamente na terceira pessoa.
Somente mais tarde, quando os conteúdos do ego, - o tão chamado
ego-complexo - adquiriu energia própria (muito provavelmente como resultado
de treinamento e prática) o sentimento de subjetividade ou Eu-mesmo ,
surge.
Este bem pode ser o momento que a criança começa a falar de si
mesma na primeira pessoa.
A continuidade da memória provavelmente começa neste estágio.
Essencialmente, por isto mesmo, seria uma continuidade de memórias do
ego.
No estágio infantil de consciência não existem ainda problemas;
nada depende do sujeito (dela), pois a criança ela mesma esta totalmente
dependente de seus pais.
É como se ela ainda não tivesse nascido, mas estivesse envolvida
na atmosfera psíquica dos pais.
Nascimento psíquico e com ele a diferenciação consciente
dos pais, normalmente toma lugar somente na puberdade, com a erupção
da sexualidade.
A mudança fisiológica é acompanhada por uma revolução
psíquica. Porque varias manifestações físicas dão
tal ênfase ao ego que ele frequentemente se assertiva sem comedimento
ou moderação.
Esta é a chamada "idade insuportável".
Até que este período seja alcançado, a vida psíquica
do indivíduo é largamente governada por instinto e poucos ou nenhum
problema surgem.
Mesmo quando a limitação externa se opõe aos seus impulsos
subjetivos, estas restrições não põem o indivíduo
em desacordo consigo mesmo. Ele se submete às limitações
ou dá a volta nelas, permanecendo bastante integrado consigo mesmo.
Ele não conhece ainda o estado de tensão intima induzido por um
problema. Este estado somente surge quando o que era uma limitação
externa se torna uma limitação intima quando um impulso é
oposto por outro.
Em linguagem psicológica nos diríamos: o estado problemático
, a divisão íntima consigo mesmo, surge quando lado a lado com
a serie dos conteúdos do ego uma segunda serie de igual intensidade vem
à existência.
Esta segunda serie, por causa do valor da sua energia, tem uma significação
funcional igual a esta do ego-complexo; nós poderíamos chamá-la
outro segundo ego que pode ocasionalmente lutar pela liderança com o
primeiro. Isto produz a divisão consigo mesmo, o estado que tipifica
um problema.
Para recapitular o que nós dissemos, o primeiro estágio da consciência
consiste em meramente reconhecer ou "conhecer", é um estado
anárquico ou caótico. O segundo, este do desenvolvimento do ego-complexo,
é monárquico ou unitário. O terceiro estágio traz
outro passo em direção à consciência, e consiste
na percepção do estado dualístico ou dividido.
Aqui chegamos ao nosso verdadeiro tema o problema dos estágios da vida.
Primeiramente precisamos manusear com o período da juventude. Ele se
estende mais ou menos desde a puberdade ate a meia idade, que ela mesma começa
entre trinta e cinco e quarenta anos.
Eu bem poderia ser perguntado porque eu começo com o segundo estágio,
como se não houvesse problemas conectados com a infância. A complexa
vida psíquica da criança é, claro, um problema de primeira
grandeza para os pais, educadores e médicos, mas quando normal, a criança
não tem problemas dela mesma. Somente o adulto que pode ter duvidas sobre
si mesmo e estar em choque consigo mesmo.
Nos todos temos familiaridade com as fontes de problemas que surgem no período
da juventude. Para muitas pessoas são as demandas da vida que abruptamente
põe um fim ao sonho da infância. Se o indivíduo esta suficientemente
preparado, a transição para uma profissão ou carreira pode
tomar lugar maciamente. Mas, se ele se prende a ilusões que são
contrarias à realidade, então problemas vão surgir.
Ninguém pode entrar na vida sem assumir certas coisas e, ocasionalmente
estas coisas são falsas, isto é, não se encaixam nas condições
nas quais a pessoa é jogada. Frequentemente é uma questão
de expectativa exagerada, subestimação de dificuldades, otimismo
injustificado ou atitude negativa. Poderíamos compilar uma lista bastante
extensa de premissas falsas que dão origem aos primeiros problemas de
consciência.
Mas não é sempre que a contradição entre as premissas
subjetivas e os fatos externos dão origem a problemas; podem frequentemente
ser dificuldades intimas, de natureza psíquica.
Elas podem existir mesmo quando as coisas correm suavemente no mundo exterior.
Muito frequentemente o distúrbio do equilíbrio psíquico
é causado pelo instinto sexual; com igual freqüência é
o sentimento de inferioridade que nasce duma hipersensibilidade intolerável.
Estes conflitos interiores podem existir mesmo quando a adaptação
com o mundo exterior foi conseguida sem esforço aparente.
Parece até mesmo que jovens que tiveram uma luta pesada pela existência
são poupados de problemas íntimos, enquanto que estes que por
alguma razão ou outra não tiveram dificuldade com adaptação
caem em problemas de sexo ou conflitos surgidos de um senso de inferioridade.
Pessoas cujos temperamentos próprios oferecem problemas são frequentemente
neuróticos, mas seria um serio engano confundir a existência de
problemas com uma neurose.
Existe uma diferença marcada entre os dois, de tal maneira que o neurótico
esta doente porque ele está inconsciente dos seus problemas, enquanto
que a pessoa com um temperamento difícil sofre dos seus problemas conscientes
sem estar doente.
Se nós tentarmos extrair os fatores essenciais e comuns da quase inexaurível
variedade dos problemas individuais encontrados no período da juventude,
nós encontraremos em todos os casos uma característica particular:
uma fixação mais ou menos patente ao nível infantil de
consciência a, uma resistência às forças decisivas
que existem dentro e fora de nós e que nos envolvem no mundo. Algo em
nós deseja permanecer criança, ser inconsciente ou, no maximo,
ser consciente apenas do ego, rejeitar tudo que seja estanho, ou então
sujeitar à nossa vontade, não fazer nada, ou então gratificar
nosso desejo de prazer ou poder.
Em tudo isto existe algo da inércia da matéria, é a persistência
num estado prévio cujo limite de consciência é menor, mais
estreito, e mais egoístico do que a fase dualística. Porque aqui
o indivíduo esta de frente com a necessidade de reconhecer e aceitar
o que é diferente e estranho como parte de sua própria vida, como
uma espécie de "tambem-eu".
A característica essencial da fase dualística é a abertura
do horizonte da vida, e é isto que é tão vigorosamente
resistido. Para ser correto, esta expansão, - ou diástole, como
Goethe a chamou - começa muito antes disto. Ela começa no nascimento,
quando a criança abandona o estreito confinamento do corpo da mãe,
e daí, de forma regular e constante aumenta até que atinge seu
clímax no estado de problema, quando o indivíduo começa
a lutar contra esta expansão.
Que aconteceria para o indivíduo se ele simplesmente mudasse a si mesmo
neste aparentemente estranho "também-eu" e permitisse que seu
ego inicial sumisse no passado?
Nós poderíamos supor isto como uma seqüência bem pratica.
A verdadeira finalidade da educação religiosa, desde a exortação
de reconduzir Adão à origem até os rituais de renascimento
das raças primitivas, é para transformar o ser humano no novo
e futuro homem, e lhe permitira ao velho desaparecer.
A Psicologia nos ensina que, numa certa maneira, não existe nada na psique
que seja velho, nada, na verdade, pode desaparecer. Mesmo o apóstolo
Paulo foi deixado com um espinho na carne. Quem quer que se proteja contra o
que é novo e estranho e regride ao passado cai na mesma condição
neurótica do homem que se identifica com o novo e foge do passado. A
única diferença é que um alienou-se do passado e o outro
do futuro. Em principio ambos estão fazendo a mesma coisa: reforçando
um nível de consciência estreito em vez de dispersar-se na tensão
dos opostos e construir um estado de consciência mais alto e mais amplo.
Esta seqüência seria ideal se pudesse acontecer no segundo estágio
da vida - mas existe uma dificuldade, porém. De um lado, a natureza não
se incomoda absolutamente a respeito de um nível mais alto de consciência,
bem ao contrario. E, a sociedade, não valoriza muito estes feitos da
psique. Seus prêmios são sempre dados para realizações
materiais e não para personalidade, sendo esta premiada na mais das vezes
após a morte.
Estes fatos nos compelem para uma solução particular: nós
somos forçados a nos limitar ao que possível obter, e diferenciar
aptidões particulares nas quais os indivíduos socialmente efetivos
descobrem seu verdadeiro eu.
Realização, utilidade e assim por diante, são os ideais
que parecem apontar o caminho fora da confusão de problemas do estado
problema.
São as estrelas orientadoras que nos guiam na aventura da abertura e
consolidação da nossa existência física. Nos ajudam
a lançar raiz no mundo, mas não nos podem guiar no desenvolvimento
de uma consciência mais ampla à qual damos o nome de cultura.
No período da juventude, contudo, este curso é o normal e em todas
as circunstancias preferível à simplesmente se atirar num redemoinho
de problemas.
O dilema é resolvido freqüentemente, então, desta maneira:
tudo que nos for dado pelo passado é adaptado para as possibilidades
e demandas do futuro. Nós nos limitamos ao atingível, e isto significa
renunciar a todas as nossas outras potencialidades psíquicas.
Alguns perdem um pedaço valioso do seu passado, outros do seu futuro.
Qualquer pessoa pode se lembrar de amigos ou colegas de escola que eram profundamente
promissores e jovens idealistas, mas que quando nos encontramos novamente com
eles, muitos anos depois, parecem ter se transformado em algo seco e confinado
num molde muito estreito. Estes são exemplos da solução
mencionada acima.
Os problemas mais sérios na vida, contudo, nunca são completamente
resolvidos. Se aparentemente eles o forem, é um sinal certo de que algo
foi esquecido de ser considerado.
O sentido e a finalidade dos problemas parecem justamente estar no trabalho
para sua solução do que na solução propriamente
dita.
Somente isto nos preserva da estupidez e da petrificação.
Desta maneira, mesmo a solução dos problemas da juventude por
nos restringir ao obtenível é temporariamente valida e não
duradoura no sentido mais profundo.
Claro que para vencer um lugar para si mesmo na sociedade e transformar sua
própria natureza de tal maneira que esta mais ou menos adequada para
este tipo de existência é tido em todos os casos como uma realização
considerável.
É uma luta guerreada tanto para dentro como para fora, comparável
com a luta da criança por um ego. Esta luta é na sua maior parte
não observada, porque acontece no escuro; mas quando nós vemos
o quanto teimosamente ilusões infantis e coisas assumidas e hábitos
egoístas estão ainda presos muitos anos depois em nós,
podemos imaginar a extensão das energias que foram necessárias
para formá-las.
Da mesma forma isto acontece com ideais, convicções, idéias
orientadoras e atitudes que no período da juventude nos levam através
da vida, pelas quais nos lutamos, sofremos e ganhamos vitórias: Essas
idéias crescem com nosso ser, nós aparentemente nos mudamos nelas,
nós desejamos perpetuá-las eternamente apenas como lógica
natural, da mesma maneira que um jovem assertiva seu ego apesar do mundo e freqüentemente
apesar de si mesmo.
Quanto mais perto chegamos do meio da vida, e quanto melhor sucesso tivemos
em nos consolidar nas nossas atitudes pessoais e posições sociais,
mais nos parece que nos descobrimos o verdadeiro sentido da vida, os ideais
corretos e os princípios de comportamento.
Por esta razão nos os supomos serem eternamente validos, e fazemos como
virtude básica sua imutabilidade.
Nós desprezamos o fato essencial de que o objetivo social é obtido
apenas com o custo da diminuição da personalidade. Muitos - mas
muitos mesmo - aspectos da vida que deveriam também ter sido experimentados,
estão guardados no sótão entre memórias empoeiradas,
mas algumas vezes também, eles são brasas brilhando sob as cinzas.
As estatísticas mostram um aumento de freqüência de depressão
em homens de quarenta anos. Nas mulheres dificuldades neuróticas começam
geralmente um pouco antes.
Nós vemos nesta fase da vida, entre 35 e 40 anos, que uma importante
mudança na psique humana esta em preparação. A principio
não é uma mudança consciente ou muito grande. É
mais uma questão de sinais indiretos de mudança que parecem ter
sua origem no inconsciente. Freqüentemente algo como uma mudança
vagarosa no caráter da pessoa, em outros casos certos traços esquecidos
desde criança podem vir à luz, ou então, certas inclinações
e interesses previamente estabelecidos começam a enfraquecer e outros
tomam seu lugar. Ao mesmo tempo - e isto acontece muito freqüentemente
- as convicções e princípios pessoais da pessoa, especialmente
os morais, começam a endurecer e aumentar incessantemente, até
que, mais ou menos na idade de 50 anos, um período de intolerância
e fanatismo é alcançado. É como se a existência destes
princípios estivessem em perigo e como se por isto fosse necessário
os enfatizar mais ainda.
O vinho da juventude nem sempre clareia com o avançar dos anos, algumas
vezes ele se turva. Todos os fenômenos mencionados acima podem ser mais
bem vistos em pessoas unilaterais, aparecendo mais cedo ou mais tarde. O seu
aparecimento me parece estar freqüentemente atrasado pelo fato que os pais
da pessoa em questão estarem ainda vivos. É como se o período
da infância se tivesse estendido excessivamente. Tenho visto isto especialmente
em homens cujos pais viveram longamente. A morte do pai então tem o efeito
de precipitar um amadurecimento quase catastrófico.
Conheci um homem profundamente religioso que era sacristão e que da idade
de 40 para cima demonstrava um aumento de intolerância para questões
morais, para finalmente atingir um nível insuportável. Ao mesmo
tempo, seu humor cada vez piorava. Finalmente ele não era mais que um
escuro pilar da igreja. Desta maneira ele prosseguiu até a idade de 55
anos, quando subitamente, sentando-se na cama no meio da noite, ele disse a
sua esposa: "Agora sei finalmente! Eu não passo de um canalha!"
Esta constatação não passou sem efeitos. Ele gastou os
anos restantes de sua vida em farras e vida libertina, e despendeu boa parte
da sua fortuna. Claramente bem um sujeito interessante, capaz de tais extremos!
O distúrbio neurótico muito freqüente da idade adulta tem
uma coisa em comum: Eles querem carregar a psicologia da fase jovem para alem
da fronteira dos chamados anos da discrição. Quem não conhece
estes simpáticos senhores que sempre precisam contar casos de seu tempo
de estudante, e que apenas se emocionam com as lembranças de sua heróica
juventude, sendo para tudo mais como verdadeiras estatuas morta? Como regra,
para se ter certeza, eles tem este mérito que não devemos subestimar,
eles não são neuróticos, apenas estereotipados.
O neurótico se caracteriza mais como uma pessoa que nunca consegue ter
as coisas como ela gostaria no momento e, portanto, nunca consegue gozar o passado
também.
Da mesma forma que o neurótico não consegue escapar da infância,
ele não consegue partir da juventude.
Ele se encolhe dos pensamentos grisalhos da idade se aproximando, sentindo esta
perspectiva diante de si como algo insuportável.
Da mesma forma que uma pessoa infantil se encolhe diante do desconhecido no
mundo e na existência humana, da mesma maneira o homem adulto se encolhe
da segunda metade da vida.
É como se tarefas desconhecidas e perigosas o estivessem esperando, ou
como se a vida o ameaçasse com sacrifícios e perdas que ele não
deseja aceitar, ou como se a vida lhe fosse tão preciosa ate agora que
ele não a quisesse abdicar.
É isto talvez o fundo do medo da morte? Não me parece muito provável,
porque como regra, a morte ainda esta muito longe e por isto mesmo uma tanto
abstrata. A experiência nos tem mostrado, ao invés disto, que a
causa básica de todas estas dificuldades desta transição
pode ser encontrada numa mudança peculiar dentro da mente que esta profundamente
instalada.
Afim de caracterizá-la, eu preciso fazer comparação com
o curso do sol - mas um sol que este dotado de sentimento humano e de uma consciência
limitada de homem.
Na manhã ele se levanta do mar noturno da inconsciência e olha
sobre o largo e brilhante mundo que se descortina diante dele, expandindo-se
pela própria ação da sua subida, o sol descobre seu significado;
ele verá o atingimento de sua altura máxima e a máxima
disseminação possível de suas bênçãos,
como seu objetivo. Nesta convicção, o sol prossegue seu curso
para atingir o Zenith desconhecido - desconhecido porque sua carreira é
única e individual, e o ponto culminante não pode ser calculado
previamente.
Quando soa meio dia, ele começa a descida.
E a descida significa o reverso de todos os seus ideais e valores que foram
nutridos na manha.
O sol cai em contradição consigo mesmo.
É como se ele aspirasse seus raios em vez de os emitir.
A luz e o calor declinam e por fim se extinguem.
Todas comparações são vãs, e esta não é
mais vã do que as outras.
Um ditado francês resume isto com resignação cínica:
"Se a juventude soubesse, se a velhice pudesse..."
Felizmente não somos sóis que nascem e morrem, pois que isto teria
péssimas conseqüências culturais. Mas existe em nós
algo que se assemelha com o sol e, falar da primavera, verão, outono
e inverno da vida, não é apenas sentimentalismo.
Desta forma, damos forma a verdades psicológicas, e mais, para fatos
fisiológicos, porque na sua reversão, apos o meio dia, o sol muda
ate mesmo suas características físicas.
Especialmente nas raças sulinas, pode-se observar que as mulheres mais
velhas desenvolvem voz mais grossa, mais funda, bigodes incipientes, algumas
características duras de traços masculinos.
Por outro lado, o físico masculino se abate e adquire características
femininas, tais como adiposidade, expressões faciais mais macias.
Existe uma historia interessante na literatura das raças, sobre um chefe
guerreiro índio, para quem o Grande Espirito apareceu, quando ele chegou
no meio da vida. O Espirito lhe comunicou que dali por diante ele teria que
comer comida de criança, sentar-se entre as mulheres e as crianças,
e usar roupas de mulher.
Ele obedeceu ao sonho sem perder prestígio.
Esta visão é a verdadeira expressão da revolução
psíquica ao meio dia da vida, ao começo do declínio da
vida.
Os valores dos homens, mesmo seu corpo, tendem a mudar para o oposto.
Nós podemos comparar a masculinidade e a feminilidade e seus componentes
psíquicos com uma reserva de substancias que na primeira metade da vida
é feito uso desigual. O homem consome uma larga quantidade da sua reserva
masculina e tem disponível somente substancia feminina, que tem então
que ser posta em uso. Por outro lado, a mulher faz uso inverso dos seus suprimentos
e seu conteúdo masculino se torna ativo.
Esta mudança é muito mais observável dentro da psique do
que fisicamente.
Podemos observar muito frequentemente que um homem de 45 ou 50 anos muitas vezes
se retira dos seus negócios e sua mulher veste calças compridas
e se põe no seu lugar, muitas vezes onde ele então serve de ajudante.
Muitas mulheres somente acordam para responsabilidade social e consciência
social apos seu quadragésimo ano. Modernamente, na esfera de negócios,
especialmente nos Estados Unidos, é muito frequente quebra por estafa
nervosa, aos quarenta anos. Se examinarmos as vítimas encontraremos que
o que quebrou foi o estilo masculino de vida que tomou conta ate então,
e que o que foi deixado foi um homem feminilizado. Por outro lado pode-se observar
que as mulheres neste mesmo ambiente desenvolveram após os 40 anos uma
incomum e rude dureza masculina que separa o coração da razão.
Muito frequentemente estas mudanças são acompanhadas por todos
os tipos de catástrofes no casamento, pois não é difícil
de imaginar o que acontece quando o marido descobre seus sentimentos doces e
a mulher sua agudeza mental.
O pior de tudo isto é que pessoas inteligentes e cultas vivem suas vidas
sem mesmo saber da possibilidade de tais transformações.
Completamente despreparados, eles embarcam na segunda metade da vida.
Ou será que existem escolas para pessoas de 40 anos que as preparem para
sua vida futura e suas demandas da mesma forma que as escolas preparam nossos
jovens para a vida?
Não, completamente despreparados nós damos o passo para o entardecer
da vida, ainda pior, damos o passo na suposição falsa que nossas
verdades e ideais que nos serviram ate então nos continuará a
servir.
Mas não podemos viver no entardecer da vida com os programas da manhã,
pois o que era ótimo na manhã, não será nada a tarde,
e o que era verdade na manhã, será mentira à tarde.
Eu tratei psicologicamente de muita gente de idade avançada, e olhei
muito frequentemente dentro dos quartos secretos das suas almas, para não
ser movido por esta verdade fundamental.
Pessoas que envelhecem deveriam saber que suas vidas não estão
expandindo ou ampliando, mas que um processo intimo inexorável força
para contração da vida.
Para uma pessoa jovem é quase um pecado, ou pelo menos perigoso, preocupar-se
demasiadamente consigo mesmo, mas para uma pessoa que envelhece, é uma
obrigação e uma necessidade dar atenção seria a
si mesmo.
Depois de lançar o sol no mundo, o sol retira seus raios a fim de iluminar-se
a si mesmo.
Em vez de fazer isto, muitas pessoas preferem ser hipocondríacos, miseráveis,
pedantes, presos ao passado ou então eternos adolescentes - tudo isto
lamentáveis substitutos da iluminação de si mesmo, mas
inevitáveis conseqüências da ilusão que a segunda metade
da vida tem que ser governada pelos principias da primeira.
Eu acabei de dizer que não ha escolas para pessoas de 40 anos. Isto não
é bem verdade. Nossas religiões tem sido sempre tais escolas no
passado, mas quantas pessoas as vêm assim hoje? Quantos de nós
foram criados em tais praticas e estamos realmente preparados para a segunda
metade da vida, para a velhice, a morte e a eternidade?
Um ser humano certamente não atingiria idades avançadas de 70
a 80 anos se isto não tivesse sentido para a espécie.
O entardecer da vida tem também que ter um significado em si mesmo e
não pode ser meramente um apêndice cheio de piedade da manha da
vida.
O significado da manhã encerra indubitavelmente o desenvolvimento do
indivíduo, nosso posicionamento no mundo externo, a propagação
da espécie, e o cuidado das nossas crianças.
Isto é o objetivo óbvio da natureza.
Mas quando esta finalidade foi atingida e mais que atingida - deveria ser o
ganho do dinheiro ou a extensão das conquistas e a expansão da
vida continuar para alem dos limites da razão e do bom senso?
Quem quer que carregue para a tarde a lei da manha, ou o objetivo natural, terá
que pagar como dano para sua alma, da mesma forma que um adolescente que tenta
carregar seu egoísmo infantil para a vida adulta tem que pagar com derrota
social.
Fazer dinheiro, proeminência social família e posteridade não
são nada mais do que natureza, não cultura.
A cultura esta fora da finalidade da natureza.
Poderia ser a cultura ser o sentido e a finalidade da segunda metade da vida?
Nas tribos primitivas nós observamos que as pessoas velhas são
sempre os guardiões dos mistérios e as leis, e é neles
que a herança cultural da tribo é expressa.
No que ficamos quanto a isto?
Onde esta a sabedoria dos velhos, onde estão os preciosos segredos e
suas visões?
Na mais das vezes, nossos velhos tentam competir com os jovens. Nos Estados
Unidos é quase um ideal para os pais parecerem irmãos dos seus
filhos e para a mãe, se possível, ser a irmã mais nova
da filha.
Eu não sei quanto desta confusão é reação
contra um exagero anterior quanto à dignidade da idade e quando esta
carregada com falsos ideais. Estes indubitavelmente existem, e o objetivo destes
que os perseguem, ficam para trás, e não adiante. Desta forma,
eles estão sempre desejando voltar pra trás. Concordo que é
difícil ver outros objetivos na segunda metade da vida diferentes dos
bem conhecidos objetivos da primeira metade.
Expansão da vida, ser útil para algo, eficiência, fazer
boa impressão na sociedade, encaminhamento sorrateiro dum filho ou filha
para um bom casamento ou boas posições profissionais, - será
tudo isto suficiente?
Infelizmente não são significado e finalidade suficiente para
estes que vêem o aproximar da velhice como uma mera diminuição
da vida e podem sentir seus ideais primeiros como algo que desvaneceu e gastou.
Claro que se estas pessoas tivessem verdadeiramente aproveitado a vida, elas
estariam se sentindo diferentes agora, elas não teriam segurado nada,
tudo que elas tivessem desejado que tivesse pegado fogo teria sido consumido,
e a quietude da idade madura seria muito bem vinda para elas. Mas nós
devemos não nos esquecer que muito poucos são artistas na vida
e que a arte de viver é a mais rara e a mais distinta de todas.
Quem que consegue esvaziar a taça da vida com graça?
Assim, para muita gente, muita coisa não vivida fica pendente - muitas
potencialidades que eles nunca puderam viver ao melhor de suas vontades, de
tal maneira que eles se aproximam no limiar da velhice com demandas insatisfeitas
que inevitavelmente os fazem tornar seus olhares para traz.
É particularmente fatal para tais pessoas olhar para traz. Para eles
uma perspectiva ou objetivo no futuro é absolutamente necessário.
Por isto que todas as grandes religiões pregam vida apos a vida, um universo
supramundano que torna possível para o homem mortal viver a segunda metade
da vida com tanta finalidade como a primeira. Para o homem de hoje a expansão
da vida e sua culminância são objetivos plausíveis, mas
a ideia de vida apos a morte lhe parece questionável. A cessação
da vida, isto é, a morte, somente pode ser aceita como um objetivo razoável
ou se a existência é tão ruim que será ótimo
morrer, ou então se a pessoa esta convencida que o sol luta para seu
entardecer para "iluminar raças distantes" com a mesma consistência
lógica que é demonstra quando sobe para o Zenith.
Mas acreditar hoje se tornou uma arte tão difícil que esta alem
da capacidade da maioria das pessoas, particularmente a parte educada da humanidade.
Eles se tornaram por demais acostumados com o pensamento que com respeito à
imortalidade e tais questões existem inumeráveis opiniões
contraditórias e nenhuma prova convincente. E como "ciência"
é a palavra chave que carrega o peso absoluto de convicção
no mundo contemporâneo, nós pedimos por "provas científicas''.
Mas pessoas educadas sabem que prova desta natureza é uma impossibilidade
filosófica.
Nós simplesmente não podemos saber nada sobre estas coisas.
Posso chamar a atenção que pelas mesmas razões que não
podemos saber mesmo se algo acontece para uma pessoa apos à morte.
Nenhuma reposta de nenhum tipo e permissível, nem contra nem a favor.
Nós simplesmente não temos conhecimento científico sobre
isto duma maneira ou de outra, e por isto, estamos na mesma posição
que quando perguntamos se o planeta Marte é habitado ou não. E
os habitantes de Marte, se existirem, não estão preocupados com
o fato que se lhes afirmamos ou negamos sua existência.
Podem existir, bem como podem não existir.
E é da mesma maneira que estamos com relação à tão
chamada imortalidade - com o que devemos engavetar o problema.
Mas aqui minha consciência de medico me acorda e me urge a dizer uma palavra
que tem uma grande importância nesta questão.
Eu tenho observado que uma vida dirigida para uma finalidade é em geral
melhor, mais rica e mais saudável do que uma vida sem rumo e que é
melhor seguir para frente junto com a corrente do tempo do que para traz contra
ele.
Para o psicoterapeuta um homem velho que não consegue se despedir da
vida lhe parece tão doente como o jovem que não quer aceitá-la.
E, a propósito, em muitos casos, é o mesmo caso de raiva infantil,
o mesmo medo, o mesmo desafio e teimosia, tanto em um como no outro.
Como medico eu estou convencido que é higiênico -se é que
eu posso usar a palavra - descobrir na morte um objetivo para o qual uma pessoa
possa lutar, e que tentar encolher-se dela, é algo anormal e não
saudável que rouba da segunda metade da vida sua finalidade.
Eu considero então que todas as religiões com um objetivo extra
terreno são eminentemente razoáveis do ponto de vista da higiene
psíquica.
Quando eu moro numa casa que eu sei que vai cair sobre minha cabeça dentro
de duas semanas, todas minhas funções vitais ficam diminuídas
por este pensamento, mas se ao contrario eu -e sinto seguro, eu posso chegar
duma maneira normal e confortável.
Do ponto de vista psicoterapeutico seria então desejável pensar
da morte como somente uma transição, uma parte do processo da
vida cuja extensão e duração estão além do
nosso conhecimento.
Apesar do fato a maioria das pessoas não sabe porque o corpo precisa
de sal, todos querem sal por causa duma necessidade instintiva.
É o mesmo com as coisas da psique.
Por larga margem a maior parte da humanidade tem sentido a necessidade de acreditar
em algo após a morte. As demandas da terapia, por isto, não nos
levam para atalhos, mas sim para as rodovias principais que a humanidade tem
trilhado.
Por isto nós estamos pensando corretamente, e em harmonia com a vida,
mesmo que não entendamos o que pensamos.
Nós conseguimos entender o que pensamos?
Nós somente entendemos o tipo de pensamento que é uma mera equação
da qual nada vem senão o que pusemos nela. Este é o trabalho do
intelecto.
Mas alem disto existe um pensamento de imagens primordiais, em símbolos
que são mais velhos que o homem histórico, que são natos
no homem desde os primórdios da humanidade, eternamente vivos, superando
todas as gerações, e que ainda são a fundação
da psique humana.
Somente é possível viver uma vida em harmonia quando nos estamos
em harmonia com estes símbolos: a sabedoria é um retorno para
eles.
Não é uma questão nem de crença nem de conhecimento,
mas a concordância do nosso pensamento com as imagens primordiais do nosso
inconsciente.
Estes símbolos são as matrizes impensáveis de todos nossos
pensamentos, não interessando o que nossa mente consciente possa cogitar.
Um destes pensamentos primordiais é a idéia de vida apos a morte.
A ciência e estas imagens primordiais são incomensuráveis.
São dados irracionais, condições a priori da imaginação,
que simplesmente estão lá, cujo sentido e significação
a ciência pode somente investigar a posteriori, da mesma forma que investiga
a função da glândula tireóide. Antes do século
l9 a glândula tireóide era considerada como um órgão
sem finalidade porque não era entendida.
Seria igual miopia de nos hoje chamar estas imagens primordiais sem sentido.
Para mim estas imagens são algo como órgãos psíquicos
e eu os trato com o maior respeito. Muitas vezes acontece que eu tenho que dizer
a algum paciente: "Sua imagem de Deus ou sua ideia de imortalidade esta
atrofiada, conseqüentemente seu metabolismo psíquico esta fora de
equilíbrio''".
A antiga "athanasias pharmakon", medicina da imortalidade, é
mais profunda e significativa do que supomos.
Em conclusão, eu gostaria de voltar à comparação
com o sol. Os arcos completos de 180 graus são divisíveis em 4
partes. A primeira quarta parte, ao lado oriente, e a infância, um estado
no qual nos somos problemas para s outros, mas não ainda conscientes
de quais problemas são nossos. Problemas conscientes preenchem a segunda
e a terceira quartas partes; enquanto que na ultima, na idade avançada,
nós voltamos novamente à condição em que nós
nos tornamos algo com. um problema para os outros.
A idade infantil e a senil são, claro, extremamente diferentes, e mesmo
assim, elas têm uma coisa em comum: submersão nos acontecimentos
do inconsciente psíquico. Uma vez que a mente da criança cresce
do inconsciente seus processos psíquicos, embora não facilmente
acessáveis, não são tão difíceis de acessar
como os dos muito velhos, que esta se afundando novamente no inconsciente, e
que progressivamente desaparece dentro dele.
A infância e a senilidade são estágios da vida sem quaisquer
problemas conscientes, razão pela qual eu não os tomei em consideração
aqui.