Collected Works, Vol. 8
Excerto da publicação "O homem moderno em procura de uma alma" de C.G.Jung
Discutir os problemas ligados 
  com os estágios do desenvolvimento humano é uma tarefa extremamente 
  severa, porque significa nada menos do que desfolhar uma imagem da vida psíquica 
  na sua totalidade, do berço até o túmulo.
  Dentro do contexto deste discurso tal tarefa pode ser executada somente nas 
  suas linhas mais gerais e precisa ficar bem entendido que nenhuma tentativa 
  será feita para descrever as ocorrências psíquicas normais 
  dentro dos vários estágios.
  Vamos nos restringir, ao invés disto, para certos "problemas", 
  isto é, para coisas que são difíceis, questionáveis, 
  ou ambíguas; numa palavra, - questões que permitem mais de uma 
  resposta - e, alem disto, respostas que estão sempre abertas a duvida. 
  Por esta razão existirá muita coisa a que deveremos adicionar 
  um ponto de interrogação nos nossos pensamentos.
  Ainda pior, existirão algumas coisas que teremos que aceitar como artigo 
  de fé, enquanto que uma ou outra vez, nós poderemos até 
  nos indulgir em especulação.
  Se a vida psíquica consistisse somente de matérias de fato auto-evidente 
  - o que num nível primitivo ainda é o caso - nós poderíamos 
  nos contentar com um solido empirismo 
  A vida psíquica do homem civilizado, contudo, está cheia de problemas; 
  nós não podemos nem pensar nela a não ser em termos de 
  problemas.
  Nossos processos psíquicos são feitos largamente por reflexões, 
  duvidas, experimentações, tudo o qual é quase estranho 
  ao inconsciente e à mente instintiva do homem primitivo.
  É ao crescimento da consciência que devemos agradecer a existência 
  de problemas; eles são o presente de Danaan da civilização.
  Somente com o abandono do instinto pelo homem - ele esta se opondo ao instinto 
  - que se cria consciência.
  O instinto é a natureza e procura perpetuar a natureza, enquanto que 
  a consciência somente pode procurar cultura ou sua negação.
  Mesmo quando nós nos voltamos para a natureza, inspirados pela expectativa 
  de Rousseau, nós "cultivamos" a natureza.
  Enquanto estamos submersos na natureza, nós estamos inconscientes e vivemos 
  na segurança do instinto, que desconhece problemas.
  Tudo que em nós ainda pertence à natureza foge de problemas, porque 
  traz duvida e em qualquer lugar que a duvida se instale existe a incerteza e 
  a possibilidade de maneiras divergentes. E, onde diversas maneiras parecem possíveis, 
  ali nós estamos abandonados da orientação certa do instinto 
  e somos jogados ao medo. Porque a consciência agora é chamada a 
  executar o que a mãe natureza sempre fez para suas crianças - 
  isto é, dar uma decisão única, inquestionável e 
  inequívoca. E aqui nós estamos sitiados pelo medo bem humano que 
  a consciência - nossa conquista de Prometeu - possa no fim não 
  ser capaz de nos servir tão bem como a natureza.
  Problemas desta forma nos levam num estado de orfandade e isolamento onde nós 
  somos abandonados pela natureza e levados à consciência.
  Não ha outra maneira aberta para nós. Somos forçados a 
  recorrer a decísões conscientes e soluções onde 
  anteriormente confiávamos nas mãos de ocorrências naturais.
  Todo problema, portanto, nos. traz a possibilidade de abertura de consciência, 
  mas também a necessidade de dizer adeus para a inconsciência infantil 
  e crença na natureza.
  Esta necessidade é um fato psíquico de tal importância que 
  constitui um dos mais essenciais ensinamentos simbólicos do Cristianismo.
  É o sacrifício do homem natural, inconsciente, ser ingênuo, 
  cuja carreira trágica começou com a ingestão da maçã 
  no Paraíso.
  A queda bíblica do homem apresenta o alvorecer da consciência como 
  uma maldição.
  E na verdade, é sob este prisma que nós olhamos primeiramente 
  sobre todos os problemas que nos forçam para maior consciência 
  e nos separa ainda mais do paraíso da infância inconsciente.
  Cada um de nos, de bom grado, entregaria seus problemas se possível eles 
  não deveriam, nem ser mencionados, ou melhor ainda, sua existência 
  negada. Nós desejamos fazer nossas vidas simples, certas e macias e, 
  por esta razão, problemas são tabus.
  Nós queremos certezas, não dúvidas; resultados, não 
  experimentações - sem mesmo constatar que certezas somente podem 
  surgir através da duvida e resultados somente da experimentação.
  A negação artificial de um problema não vai produzir convicção, 
  pelo contrario, uma conscientização maior e mais alta é 
  requerida para nos dar a certeza e a clareza que precisamos.
  Esta introdução, longa como ela é, me parecia necessária 
  a fim de fazer clara a natureza do nosso assunto.
  Quando nós temos que lidar com problemas, nós instintivamente 
  resistimos de tentar o caminho que leva através das trevas e da obscuridade. 
  Nós desejamos ouvir somente resultados inequívocos e esquecer 
  completamente que estes resultados somente podem ser trazidos quando nós 
  nos aventuramos nas trevas e de lá emergimos. Mas, para penetrar as trevas, 
  nos precisamos invocar todos os poderes de iluminação que a consciência 
  pode oferecer; como eu já disse, nos precisamos indulgir em especulação.
  Porque ao tratarmos dos problemas da vida psíquica nós perpetuamente 
  tropeçaremos sobre questões de principio pertencendo ao domínio 
  privado dos mais heterogêneos ramos do conhecimento.
  Nós perturbaremos e enraiveceremos o teólogo não menos 
  que o filosofo, o medico não menos que o educador, nós até 
  mesmo trataremos no campo do biólogo e do historiador.
  Este comportamento extravagante não é devido à arrogância 
  mas à circunstancia de que a psique do homem é uma combinação 
  única de fatores que são ao mesmo tempo os assuntos especiais 
  de linhas de pesquisa de longo alcance.
  Porque foi fora de si mesmo e fora da sua constituição peculiar 
  que o homem produziu suas ciências. Elas são os SINTOMAS da sua 
  psique.
  Se, por esta razão, nos perguntarmos a inevitável questão, 
  "porque o homem, em obvio contraste com o mundo animal, tem, de todo, problemas?", 
  nós entraremos na intricada malha da confusão de pensamentos que 
  milhares de mentes incisivas têm tecido no correr dos séculos.
  Eu não vou desempenhar o trabalho de uma Sisífe sobre esta obra 
  prima de confusão, mas tentarei apresentar simplesmente minha contribuição 
  para a tentativa do homem responder esta questão básica.
  Não existem problemas sem consciência. Nós precisamos, por 
  esta razão, colocar a questão de outra forma e perguntar, "Como, 
  primeiramente, a consciência surge?".
  Ninguém pode dizer com certeza, mas nós podemos observar crianças 
  pequenas no processo de se tornarem conscientes. Qualquer pai pode ver isto 
  se ele prestar atenção. E o que vemos é isto: quando a 
  criança reconhece alguém ou algo - quando ela "conhece" 
  a pessoa ou a coisa - então nos sentimos que a criança tem consciência. 
  Isto sem duvida, é também porque no Paraíso foi a arvore 
  do conhecimento que produziu tal fruta fatídica.
  Mas, o que é reconhecimento ou conhecimentos neste sentido? Nós 
  falamos de "conhecer" algo quando nos conseguimos ligar uma nova percepção 
  para um contexto já existente, de tal maneira que nos temos na consciência 
  não somente a percepção mas partes do contexto também. 
  "Conhecer" é baseado, por esta razão, sobre a conexão 
  percebida dentre o conteúdo psíquico.
  Nós não podemos ter conhecimento de um conteúdo que não 
  está ligado a nada, e nos não podemos mesmo ser conscientes dele 
  se estivesse nossa consciência ainda no seu baixo nível inicial.
  Consequentemente, o primeiro estágio da consciência que nos podemos 
  observar consiste de meras conexões entre dois ou mais conteúdos 
  psíquicos. A este nível, a consciência é meramente 
  esporádica, sendo limitada à percepção de algumas 
  conexões e seu conteúdo não é lembrado posteriormente. 
  É um fato que nos primeiros anos da vida não existe memória 
  continua; no Maximo existem ilhas de consciência que são como simples 
  lâmpadas ou objetos iluminados nas profundezas da escuridão. 
  Mas estas ilhas de memória não são as mesmas que as conexões 
  anteriores que são meramente percebidas; elas contem uma nova e muito 
  importante serie de conteúdos que pertencem ao sujeito que percebe ele 
  mesmo, o tão chamado ego. Esta serie, como a serie inicial de conteúdos, 
  inicialmente é meramente percebida, e por esta razão a criança 
  logicamente começa por falar de si mesmo objetivamente na terceira pessoa.
  Somente mais tarde, quando os conteúdos do ego, - o tão chamado 
  ego-complexo - adquiriu energia própria (muito provavelmente como resultado 
  de treinamento e prática) o sentimento de subjetividade ou Eu-mesmo , 
  surge.
  Este bem pode ser o momento que a criança começa a falar de si 
  mesma na primeira pessoa.
  A continuidade da memória provavelmente começa neste estágio. 
  Essencialmente, por isto mesmo, seria uma continuidade de memórias do 
  ego.
  No estágio infantil de consciência não existem ainda problemas; 
  nada depende do sujeito (dela), pois a criança ela mesma esta totalmente 
  dependente de seus pais.
  É como se ela ainda não tivesse nascido, mas estivesse envolvida 
  na atmosfera psíquica dos pais.
  Nascimento psíquico e com ele a diferenciação consciente 
  dos pais, normalmente toma lugar somente na puberdade, com a erupção 
  da sexualidade.
  A mudança fisiológica é acompanhada por uma revolução 
  psíquica. Porque varias manifestações físicas dão 
  tal ênfase ao ego que ele frequentemente se assertiva sem comedimento 
  ou moderação.
  Esta é a chamada "idade insuportável".
  Até que este período seja alcançado, a vida psíquica 
  do indivíduo é largamente governada por instinto e poucos ou nenhum 
  problema surgem.
  Mesmo quando a limitação externa se opõe aos seus impulsos 
  subjetivos, estas restrições não põem o indivíduo 
  em desacordo consigo mesmo. Ele se submete às limitações 
  ou dá a volta nelas, permanecendo bastante integrado consigo mesmo.
  Ele não conhece ainda o estado de tensão intima induzido por um 
  problema. Este estado somente surge quando o que era uma limitação 
  externa se torna uma limitação intima quando um impulso é 
  oposto por outro.
  Em linguagem psicológica nos diríamos: o estado problemático 
  , a divisão íntima consigo mesmo, surge quando lado a lado com 
  a serie dos conteúdos do ego uma segunda serie de igual intensidade vem 
  à existência.
  Esta segunda serie, por causa do valor da sua energia, tem uma significação 
  funcional igual a esta do ego-complexo; nós poderíamos chamá-la 
  outro segundo ego que pode ocasionalmente lutar pela liderança com o 
  primeiro. Isto produz a divisão consigo mesmo, o estado que tipifica 
  um problema.
  Para recapitular o que nós dissemos, o primeiro estágio da consciência 
  consiste em meramente reconhecer ou "conhecer", é um estado 
  anárquico ou caótico. O segundo, este do desenvolvimento do ego-complexo, 
  é monárquico ou unitário. O terceiro estágio traz 
  outro passo em direção à consciência, e consiste 
  na percepção do estado dualístico ou dividido.
  Aqui chegamos ao nosso verdadeiro tema o problema dos estágios da vida.
  Primeiramente precisamos manusear com o período da juventude. Ele se 
  estende mais ou menos desde a puberdade ate a meia idade, que ela mesma começa 
  entre trinta e cinco e quarenta anos.
  Eu bem poderia ser perguntado porque eu começo com o segundo estágio, 
  como se não houvesse problemas conectados com a infância. A complexa 
  vida psíquica da criança é, claro, um problema de primeira 
  grandeza para os pais, educadores e médicos, mas quando normal, a criança 
  não tem problemas dela mesma. Somente o adulto que pode ter duvidas sobre 
  si mesmo e estar em choque consigo mesmo.
  Nos todos temos familiaridade com as fontes de problemas que surgem no período 
  da juventude. Para muitas pessoas são as demandas da vida que abruptamente 
  põe um fim ao sonho da infância. Se o indivíduo esta suficientemente 
  preparado, a transição para uma profissão ou carreira pode 
  tomar lugar maciamente. Mas, se ele se prende a ilusões que são 
  contrarias à realidade, então problemas vão surgir.
  Ninguém pode entrar na vida sem assumir certas coisas e, ocasionalmente 
  estas coisas são falsas, isto é, não se encaixam nas condições 
  nas quais a pessoa é jogada. Frequentemente é uma questão 
  de expectativa exagerada, subestimação de dificuldades, otimismo 
  injustificado ou atitude negativa. Poderíamos compilar uma lista bastante 
  extensa de premissas falsas que dão origem aos primeiros problemas de 
  consciência.
  Mas não é sempre que a contradição entre as premissas 
  subjetivas e os fatos externos dão origem a problemas; podem frequentemente 
  ser dificuldades intimas, de natureza psíquica.
  Elas podem existir mesmo quando as coisas correm suavemente no mundo exterior.
  Muito frequentemente o distúrbio do equilíbrio psíquico 
  é causado pelo instinto sexual; com igual freqüência é 
  o sentimento de inferioridade que nasce duma hipersensibilidade intolerável.
  Estes conflitos interiores podem existir mesmo quando a adaptação 
  com o mundo exterior foi conseguida sem esforço aparente.
  Parece até mesmo que jovens que tiveram uma luta pesada pela existência 
  são poupados de problemas íntimos, enquanto que estes que por 
  alguma razão ou outra não tiveram dificuldade com adaptação 
  caem em problemas de sexo ou conflitos surgidos de um senso de inferioridade.
  Pessoas cujos temperamentos próprios oferecem problemas são frequentemente 
  neuróticos, mas seria um serio engano confundir a existência de 
  problemas com uma neurose.
  Existe uma diferença marcada entre os dois, de tal maneira que o neurótico 
  esta doente porque ele está inconsciente dos seus problemas, enquanto 
  que a pessoa com um temperamento difícil sofre dos seus problemas conscientes 
  sem estar doente.
  Se nós tentarmos extrair os fatores essenciais e comuns da quase inexaurível 
  variedade dos problemas individuais encontrados no período da juventude, 
  nós encontraremos em todos os casos uma característica particular: 
  uma fixação mais ou menos patente ao nível infantil de 
  consciência a, uma resistência às forças decisivas 
  que existem dentro e fora de nós e que nos envolvem no mundo. Algo em 
  nós deseja permanecer criança, ser inconsciente ou, no maximo, 
  ser consciente apenas do ego, rejeitar tudo que seja estanho, ou então 
  sujeitar à nossa vontade, não fazer nada, ou então gratificar 
  nosso desejo de prazer ou poder.
  Em tudo isto existe algo da inércia da matéria, é a persistência 
  num estado prévio cujo limite de consciência é menor, mais 
  estreito, e mais egoístico do que a fase dualística. Porque aqui 
  o indivíduo esta de frente com a necessidade de reconhecer e aceitar 
  o que é diferente e estranho como parte de sua própria vida, como 
  uma espécie de "tambem-eu".
  A característica essencial da fase dualística é a abertura 
  do horizonte da vida, e é isto que é tão vigorosamente 
  resistido. Para ser correto, esta expansão, - ou diástole, como 
  Goethe a chamou - começa muito antes disto. Ela começa no nascimento, 
  quando a criança abandona o estreito confinamento do corpo da mãe, 
  e daí, de forma regular e constante aumenta até que atinge seu 
  clímax no estado de problema, quando o indivíduo começa 
  a lutar contra esta expansão.
  Que aconteceria para o indivíduo se ele simplesmente mudasse a si mesmo 
  neste aparentemente estranho "também-eu" e permitisse que seu 
  ego inicial sumisse no passado?
  Nós poderíamos supor isto como uma seqüência bem pratica. 
  A verdadeira finalidade da educação religiosa, desde a exortação 
  de reconduzir Adão à origem até os rituais de renascimento 
  das raças primitivas, é para transformar o ser humano no novo 
  e futuro homem, e lhe permitira ao velho desaparecer.
  A Psicologia nos ensina que, numa certa maneira, não existe nada na psique 
  que seja velho, nada, na verdade, pode desaparecer. Mesmo o apóstolo 
  Paulo foi deixado com um espinho na carne. Quem quer que se proteja contra o 
  que é novo e estranho e regride ao passado cai na mesma condição 
  neurótica do homem que se identifica com o novo e foge do passado. A 
  única diferença é que um alienou-se do passado e o outro 
  do futuro. Em principio ambos estão fazendo a mesma coisa: reforçando 
  um nível de consciência estreito em vez de dispersar-se na tensão 
  dos opostos e construir um estado de consciência mais alto e mais amplo.
  Esta seqüência seria ideal se pudesse acontecer no segundo estágio 
  da vida - mas existe uma dificuldade, porém. De um lado, a natureza não 
  se incomoda absolutamente a respeito de um nível mais alto de consciência, 
  bem ao contrario. E, a sociedade, não valoriza muito estes feitos da 
  psique. Seus prêmios são sempre dados para realizações 
  materiais e não para personalidade, sendo esta premiada na mais das vezes 
  após a morte. 
  Estes fatos nos compelem para uma solução particular: nós 
  somos forçados a nos limitar ao que possível obter, e diferenciar 
  aptidões particulares nas quais os indivíduos socialmente efetivos 
  descobrem seu verdadeiro eu.
  Realização, utilidade e assim por diante, são os ideais 
  que parecem apontar o caminho fora da confusão de problemas do estado 
  problema.
  São as estrelas orientadoras que nos guiam na aventura da abertura e 
  consolidação da nossa existência física. Nos ajudam 
  a lançar raiz no mundo, mas não nos podem guiar no desenvolvimento 
  de uma consciência mais ampla à qual damos o nome de cultura.
  No período da juventude, contudo, este curso é o normal e em todas 
  as circunstancias preferível à simplesmente se atirar num redemoinho 
  de problemas.
  O dilema é resolvido freqüentemente, então, desta maneira: 
  tudo que nos for dado pelo passado é adaptado para as possibilidades 
  e demandas do futuro. Nós nos limitamos ao atingível, e isto significa 
  renunciar a todas as nossas outras potencialidades psíquicas.
  Alguns perdem um pedaço valioso do seu passado, outros do seu futuro.
  Qualquer pessoa pode se lembrar de amigos ou colegas de escola que eram profundamente 
  promissores e jovens idealistas, mas que quando nos encontramos novamente com 
  eles, muitos anos depois, parecem ter se transformado em algo seco e confinado 
  num molde muito estreito. Estes são exemplos da solução 
  mencionada acima.
  Os problemas mais sérios na vida, contudo, nunca são completamente 
  resolvidos. Se aparentemente eles o forem, é um sinal certo de que algo 
  foi esquecido de ser considerado.
  O sentido e a finalidade dos problemas parecem justamente estar no trabalho 
  para sua solução do que na solução propriamente 
  dita.
  Somente isto nos preserva da estupidez e da petrificação.
  Desta maneira, mesmo a solução dos problemas da juventude por 
  nos restringir ao obtenível é temporariamente valida e não 
  duradoura no sentido mais profundo.
  Claro que para vencer um lugar para si mesmo na sociedade e transformar sua 
  própria natureza de tal maneira que esta mais ou menos adequada para 
  este tipo de existência é tido em todos os casos como uma realização 
  considerável.
  É uma luta guerreada tanto para dentro como para fora, comparável 
  com a luta da criança por um ego. Esta luta é na sua maior parte 
  não observada, porque acontece no escuro; mas quando nós vemos 
  o quanto teimosamente ilusões infantis e coisas assumidas e hábitos 
  egoístas estão ainda presos muitos anos depois em nós, 
  podemos imaginar a extensão das energias que foram necessárias 
  para formá-las.
  Da mesma forma isto acontece com ideais, convicções, idéias 
  orientadoras e atitudes que no período da juventude nos levam através 
  da vida, pelas quais nos lutamos, sofremos e ganhamos vitórias: Essas 
  idéias crescem com nosso ser, nós aparentemente nos mudamos nelas, 
  nós desejamos perpetuá-las eternamente apenas como lógica 
  natural, da mesma maneira que um jovem assertiva seu ego apesar do mundo e freqüentemente 
  apesar de si mesmo.
  Quanto mais perto chegamos do meio da vida, e quanto melhor sucesso tivemos 
  em nos consolidar nas nossas atitudes pessoais e posições sociais, 
  mais nos parece que nos descobrimos o verdadeiro sentido da vida, os ideais 
  corretos e os princípios de comportamento.
  Por esta razão nos os supomos serem eternamente validos, e fazemos como 
  virtude básica sua imutabilidade.
  Nós desprezamos o fato essencial de que o objetivo social é obtido 
  apenas com o custo da diminuição da personalidade. Muitos - mas 
  muitos mesmo - aspectos da vida que deveriam também ter sido experimentados, 
  estão guardados no sótão entre memórias empoeiradas, 
  mas algumas vezes também, eles são brasas brilhando sob as cinzas.
  As estatísticas mostram um aumento de freqüência de depressão 
  em homens de quarenta anos. Nas mulheres dificuldades neuróticas começam 
  geralmente um pouco antes.
  Nós vemos nesta fase da vida, entre 35 e 40 anos, que uma importante 
  mudança na psique humana esta em preparação. A principio 
  não é uma mudança consciente ou muito grande. É 
  mais uma questão de sinais indiretos de mudança que parecem ter 
  sua origem no inconsciente. Freqüentemente algo como uma mudança 
  vagarosa no caráter da pessoa, em outros casos certos traços esquecidos 
  desde criança podem vir à luz, ou então, certas inclinações 
  e interesses previamente estabelecidos começam a enfraquecer e outros 
  tomam seu lugar. Ao mesmo tempo - e isto acontece muito freqüentemente 
  - as convicções e princípios pessoais da pessoa, especialmente 
  os morais, começam a endurecer e aumentar incessantemente, até 
  que, mais ou menos na idade de 50 anos, um período de intolerância 
  e fanatismo é alcançado. É como se a existência destes 
  princípios estivessem em perigo e como se por isto fosse necessário 
  os enfatizar mais ainda.
  O vinho da juventude nem sempre clareia com o avançar dos anos, algumas 
  vezes ele se turva. Todos os fenômenos mencionados acima podem ser mais 
  bem vistos em pessoas unilaterais, aparecendo mais cedo ou mais tarde. O seu 
  aparecimento me parece estar freqüentemente atrasado pelo fato que os pais 
  da pessoa em questão estarem ainda vivos. É como se o período 
  da infância se tivesse estendido excessivamente. Tenho visto isto especialmente 
  em homens cujos pais viveram longamente. A morte do pai então tem o efeito 
  de precipitar um amadurecimento quase catastrófico.
  Conheci um homem profundamente religioso que era sacristão e que da idade 
  de 40 para cima demonstrava um aumento de intolerância para questões 
  morais, para finalmente atingir um nível insuportável. Ao mesmo 
  tempo, seu humor cada vez piorava. Finalmente ele não era mais que um 
  escuro pilar da igreja. Desta maneira ele prosseguiu até a idade de 55 
  anos, quando subitamente, sentando-se na cama no meio da noite, ele disse a 
  sua esposa: "Agora sei finalmente! Eu não passo de um canalha!" 
  Esta constatação não passou sem efeitos. Ele gastou os 
  anos restantes de sua vida em farras e vida libertina, e despendeu boa parte 
  da sua fortuna. Claramente bem um sujeito interessante, capaz de tais extremos!
  O distúrbio neurótico muito freqüente da idade adulta tem 
  uma coisa em comum: Eles querem carregar a psicologia da fase jovem para alem 
  da fronteira dos chamados anos da discrição. Quem não conhece 
  estes simpáticos senhores que sempre precisam contar casos de seu tempo 
  de estudante, e que apenas se emocionam com as lembranças de sua heróica 
  juventude, sendo para tudo mais como verdadeiras estatuas morta? Como regra, 
  para se ter certeza, eles tem este mérito que não devemos subestimar, 
  eles não são neuróticos, apenas estereotipados.
  O neurótico se caracteriza mais como uma pessoa que nunca consegue ter 
  as coisas como ela gostaria no momento e, portanto, nunca consegue gozar o passado 
  também.
  Da mesma forma que o neurótico não consegue escapar da infância, 
  ele não consegue partir da juventude.
  Ele se encolhe dos pensamentos grisalhos da idade se aproximando, sentindo esta 
  perspectiva diante de si como algo insuportável.
  Da mesma forma que uma pessoa infantil se encolhe diante do desconhecido no 
  mundo e na existência humana, da mesma maneira o homem adulto se encolhe 
  da segunda metade da vida.
  É como se tarefas desconhecidas e perigosas o estivessem esperando, ou 
  como se a vida o ameaçasse com sacrifícios e perdas que ele não 
  deseja aceitar, ou como se a vida lhe fosse tão preciosa ate agora que 
  ele não a quisesse abdicar.
  É isto talvez o fundo do medo da morte? Não me parece muito provável, 
  porque como regra, a morte ainda esta muito longe e por isto mesmo uma tanto 
  abstrata. A experiência nos tem mostrado, ao invés disto, que a 
  causa básica de todas estas dificuldades desta transição 
  pode ser encontrada numa mudança peculiar dentro da mente que esta profundamente 
  instalada.
  Afim de caracterizá-la, eu preciso fazer comparação com 
  o curso do sol - mas um sol que este dotado de sentimento humano e de uma consciência 
  limitada de homem.
  Na manhã ele se levanta do mar noturno da inconsciência e olha 
  sobre o largo e brilhante mundo que se descortina diante dele, expandindo-se 
  pela própria ação da sua subida, o sol descobre seu significado; 
  ele verá o atingimento de sua altura máxima e a máxima 
  disseminação possível de suas bênçãos, 
  como seu objetivo. Nesta convicção, o sol prossegue seu curso 
  para atingir o Zenith desconhecido - desconhecido porque sua carreira é 
  única e individual, e o ponto culminante não pode ser calculado 
  previamente. 
  Quando soa meio dia, ele começa a descida.
  E a descida significa o reverso de todos os seus ideais e valores que foram 
  nutridos na manha.
  O sol cai em contradição consigo mesmo.
  É como se ele aspirasse seus raios em vez de os emitir.
  A luz e o calor declinam e por fim se extinguem.
  Todas comparações são vãs, e esta não é 
  mais vã do que as outras.
  Um ditado francês resume isto com resignação cínica: 
  "Se a juventude soubesse, se a velhice pudesse..." 
  Felizmente não somos sóis que nascem e morrem, pois que isto teria 
  péssimas conseqüências culturais. Mas existe em nós 
  algo que se assemelha com o sol e, falar da primavera, verão, outono 
  e inverno da vida, não é apenas sentimentalismo.
  Desta forma, damos forma a verdades psicológicas, e mais, para fatos 
  fisiológicos, porque na sua reversão, apos o meio dia, o sol muda 
  ate mesmo suas características físicas.
  Especialmente nas raças sulinas, pode-se observar que as mulheres mais 
  velhas desenvolvem voz mais grossa, mais funda, bigodes incipientes, algumas 
  características duras de traços masculinos.
  Por outro lado, o físico masculino se abate e adquire características 
  femininas, tais como adiposidade, expressões faciais mais macias.
  Existe uma historia interessante na literatura das raças, sobre um chefe 
  guerreiro índio, para quem o Grande Espirito apareceu, quando ele chegou 
  no meio da vida. O Espirito lhe comunicou que dali por diante ele teria que 
  comer comida de criança, sentar-se entre as mulheres e as crianças, 
  e usar roupas de mulher.
  Ele obedeceu ao sonho sem perder prestígio.
  Esta visão é a verdadeira expressão da revolução 
  psíquica ao meio dia da vida, ao começo do declínio da 
  vida.
  Os valores dos homens, mesmo seu corpo, tendem a mudar para o oposto.
  Nós podemos comparar a masculinidade e a feminilidade e seus componentes 
  psíquicos com uma reserva de substancias que na primeira metade da vida 
  é feito uso desigual. O homem consome uma larga quantidade da sua reserva 
  masculina e tem disponível somente substancia feminina, que tem então 
  que ser posta em uso. Por outro lado, a mulher faz uso inverso dos seus suprimentos 
  e seu conteúdo masculino se torna ativo.
  Esta mudança é muito mais observável dentro da psique do 
  que fisicamente.
  Podemos observar muito frequentemente que um homem de 45 ou 50 anos muitas vezes 
  se retira dos seus negócios e sua mulher veste calças compridas 
  e se põe no seu lugar, muitas vezes onde ele então serve de ajudante. 
  Muitas mulheres somente acordam para responsabilidade social e consciência 
  social apos seu quadragésimo ano. Modernamente, na esfera de negócios, 
  especialmente nos Estados Unidos, é muito frequente quebra por estafa 
  nervosa, aos quarenta anos. Se examinarmos as vítimas encontraremos que 
  o que quebrou foi o estilo masculino de vida que tomou conta ate então, 
  e que o que foi deixado foi um homem feminilizado. Por outro lado pode-se observar 
  que as mulheres neste mesmo ambiente desenvolveram após os 40 anos uma 
  incomum e rude dureza masculina que separa o coração da razão.
  Muito frequentemente estas mudanças são acompanhadas por todos 
  os tipos de catástrofes no casamento, pois não é difícil 
  de imaginar o que acontece quando o marido descobre seus sentimentos doces e 
  a mulher sua agudeza mental.
  O pior de tudo isto é que pessoas inteligentes e cultas vivem suas vidas 
  sem mesmo saber da possibilidade de tais transformações.
  Completamente despreparados, eles embarcam na segunda metade da vida. 
  Ou será que existem escolas para pessoas de 40 anos que as preparem para 
  sua vida futura e suas demandas da mesma forma que as escolas preparam nossos 
  jovens para a vida?
  Não, completamente despreparados nós damos o passo para o entardecer 
  da vida, ainda pior, damos o passo na suposição falsa que nossas 
  verdades e ideais que nos serviram ate então nos continuará a 
  servir.
  Mas não podemos viver no entardecer da vida com os programas da manhã, 
  pois o que era ótimo na manhã, não será nada a tarde, 
  e o que era verdade na manhã, será mentira à tarde.
  Eu tratei psicologicamente de muita gente de idade avançada, e olhei 
  muito frequentemente dentro dos quartos secretos das suas almas, para não 
  ser movido por esta verdade fundamental. 
  Pessoas que envelhecem deveriam saber que suas vidas não estão 
  expandindo ou ampliando, mas que um processo intimo inexorável força 
  para contração da vida.
  Para uma pessoa jovem é quase um pecado, ou pelo menos perigoso, preocupar-se 
  demasiadamente consigo mesmo, mas para uma pessoa que envelhece, é uma 
  obrigação e uma necessidade dar atenção seria a 
  si mesmo.
  Depois de lançar o sol no mundo, o sol retira seus raios a fim de iluminar-se 
  a si mesmo.
  Em vez de fazer isto, muitas pessoas preferem ser hipocondríacos, miseráveis, 
  pedantes, presos ao passado ou então eternos adolescentes - tudo isto 
  lamentáveis substitutos da iluminação de si mesmo, mas 
  inevitáveis conseqüências da ilusão que a segunda metade 
  da vida tem que ser governada pelos principias da primeira.
  Eu acabei de dizer que não ha escolas para pessoas de 40 anos. Isto não 
  é bem verdade. Nossas religiões tem sido sempre tais escolas no 
  passado, mas quantas pessoas as vêm assim hoje? Quantos de nós 
  foram criados em tais praticas e estamos realmente preparados para a segunda 
  metade da vida, para a velhice, a morte e a eternidade?
  Um ser humano certamente não atingiria idades avançadas de 70 
  a 80 anos se isto não tivesse sentido para a espécie.
  O entardecer da vida tem também que ter um significado em si mesmo e 
  não pode ser meramente um apêndice cheio de piedade da manha da 
  vida.
  O significado da manhã encerra indubitavelmente o desenvolvimento do 
  indivíduo, nosso posicionamento no mundo externo, a propagação 
  da espécie, e o cuidado das nossas crianças.
  Isto é o objetivo óbvio da natureza.
  Mas quando esta finalidade foi atingida e mais que atingida - deveria ser o 
  ganho do dinheiro ou a extensão das conquistas e a expansão da 
  vida continuar para alem dos limites da razão e do bom senso?
  Quem quer que carregue para a tarde a lei da manha, ou o objetivo natural, terá 
  que pagar como dano para sua alma, da mesma forma que um adolescente que tenta 
  carregar seu egoísmo infantil para a vida adulta tem que pagar com derrota 
  social.
  Fazer dinheiro, proeminência social família e posteridade não 
  são nada mais do que natureza, não cultura.
  A cultura esta fora da finalidade da natureza.
  Poderia ser a cultura ser o sentido e a finalidade da segunda metade da vida?
  Nas tribos primitivas nós observamos que as pessoas velhas são 
  sempre os guardiões dos mistérios e as leis, e é neles 
  que a herança cultural da tribo é expressa.
  No que ficamos quanto a isto?
  Onde esta a sabedoria dos velhos, onde estão os preciosos segredos e 
  suas visões?
  Na mais das vezes, nossos velhos tentam competir com os jovens. Nos Estados 
  Unidos é quase um ideal para os pais parecerem irmãos dos seus 
  filhos e para a mãe, se possível, ser a irmã mais nova 
  da filha.
  Eu não sei quanto desta confusão é reação 
  contra um exagero anterior quanto à dignidade da idade e quando esta 
  carregada com falsos ideais. Estes indubitavelmente existem, e o objetivo destes 
  que os perseguem, ficam para trás, e não adiante. Desta forma, 
  eles estão sempre desejando voltar pra trás. Concordo que é 
  difícil ver outros objetivos na segunda metade da vida diferentes dos 
  bem conhecidos objetivos da primeira metade.
  Expansão da vida, ser útil para algo, eficiência, fazer 
  boa impressão na sociedade, encaminhamento sorrateiro dum filho ou filha 
  para um bom casamento ou boas posições profissionais, - será 
  tudo isto suficiente?
  Infelizmente não são significado e finalidade suficiente para 
  estes que vêem o aproximar da velhice como uma mera diminuição 
  da vida e podem sentir seus ideais primeiros como algo que desvaneceu e gastou. 
  Claro que se estas pessoas tivessem verdadeiramente aproveitado a vida, elas 
  estariam se sentindo diferentes agora, elas não teriam segurado nada, 
  tudo que elas tivessem desejado que tivesse pegado fogo teria sido consumido, 
  e a quietude da idade madura seria muito bem vinda para elas. Mas nós 
  devemos não nos esquecer que muito poucos são artistas na vida 
  e que a arte de viver é a mais rara e a mais distinta de todas.
  Quem que consegue esvaziar a taça da vida com graça?
  Assim, para muita gente, muita coisa não vivida fica pendente - muitas 
  potencialidades que eles nunca puderam viver ao melhor de suas vontades, de 
  tal maneira que eles se aproximam no limiar da velhice com demandas insatisfeitas 
  que inevitavelmente os fazem tornar seus olhares para traz.
  É particularmente fatal para tais pessoas olhar para traz. Para eles 
  uma perspectiva ou objetivo no futuro é absolutamente necessário. 
  Por isto que todas as grandes religiões pregam vida apos a vida, um universo 
  supramundano que torna possível para o homem mortal viver a segunda metade 
  da vida com tanta finalidade como a primeira. Para o homem de hoje a expansão 
  da vida e sua culminância são objetivos plausíveis, mas 
  a ideia de vida apos a morte lhe parece questionável. A cessação 
  da vida, isto é, a morte, somente pode ser aceita como um objetivo razoável 
  ou se a existência é tão ruim que será ótimo 
  morrer, ou então se a pessoa esta convencida que o sol luta para seu 
  entardecer para "iluminar raças distantes" com a mesma consistência 
  lógica que é demonstra quando sobe para o Zenith.
  Mas acreditar hoje se tornou uma arte tão difícil que esta alem 
  da capacidade da maioria das pessoas, particularmente a parte educada da humanidade.
  Eles se tornaram por demais acostumados com o pensamento que com respeito à 
  imortalidade e tais questões existem inumeráveis opiniões 
  contraditórias e nenhuma prova convincente. E como "ciência" 
  é a palavra chave que carrega o peso absoluto de convicção 
  no mundo contemporâneo, nós pedimos por "provas científicas''.
  Mas pessoas educadas sabem que prova desta natureza é uma impossibilidade 
  filosófica.
  Nós simplesmente não podemos saber nada sobre estas coisas.
  Posso chamar a atenção que pelas mesmas razões que não 
  podemos saber mesmo se algo acontece para uma pessoa apos à morte.
  Nenhuma reposta de nenhum tipo e permissível, nem contra nem a favor.
  Nós simplesmente não temos conhecimento científico sobre 
  isto duma maneira ou de outra, e por isto, estamos na mesma posição 
  que quando perguntamos se o planeta Marte é habitado ou não. E 
  os habitantes de Marte, se existirem, não estão preocupados com 
  o fato que se lhes afirmamos ou negamos sua existência.
  Podem existir, bem como podem não existir.
  E é da mesma maneira que estamos com relação à tão 
  chamada imortalidade - com o que devemos engavetar o problema.
  Mas aqui minha consciência de medico me acorda e me urge a dizer uma palavra 
  que tem uma grande importância nesta questão.
  Eu tenho observado que uma vida dirigida para uma finalidade é em geral 
  melhor, mais rica e mais saudável do que uma vida sem rumo e que é 
  melhor seguir para frente junto com a corrente do tempo do que para traz contra 
  ele.
  Para o psicoterapeuta um homem velho que não consegue se despedir da 
  vida lhe parece tão doente como o jovem que não quer aceitá-la.
  E, a propósito, em muitos casos, é o mesmo caso de raiva infantil, 
  o mesmo medo, o mesmo desafio e teimosia, tanto em um como no outro.
  Como medico eu estou convencido que é higiênico -se é que 
  eu posso usar a palavra - descobrir na morte um objetivo para o qual uma pessoa 
  possa lutar, e que tentar encolher-se dela, é algo anormal e não 
  saudável que rouba da segunda metade da vida sua finalidade.
  Eu considero então que todas as religiões com um objetivo extra 
  terreno são eminentemente razoáveis do ponto de vista da higiene 
  psíquica.
  Quando eu moro numa casa que eu sei que vai cair sobre minha cabeça dentro 
  de duas semanas, todas minhas funções vitais ficam diminuídas 
  por este pensamento, mas se ao contrario eu -e sinto seguro, eu posso chegar 
  duma maneira normal e confortável.
  Do ponto de vista psicoterapeutico seria então desejável pensar 
  da morte como somente uma transição, uma parte do processo da 
  vida cuja extensão e duração estão além do 
  nosso conhecimento.
  Apesar do fato a maioria das pessoas não sabe porque o corpo precisa 
  de sal, todos querem sal por causa duma necessidade instintiva.
  É o mesmo com as coisas da psique.
  Por larga margem a maior parte da humanidade tem sentido a necessidade de acreditar 
  em algo após a morte. As demandas da terapia, por isto, não nos 
  levam para atalhos, mas sim para as rodovias principais que a humanidade tem 
  trilhado.
  Por isto nós estamos pensando corretamente, e em harmonia com a vida, 
  mesmo que não entendamos o que pensamos.
  Nós conseguimos entender o que pensamos? 
  Nós somente entendemos o tipo de pensamento que é uma mera equação 
  da qual nada vem senão o que pusemos nela. Este é o trabalho do 
  intelecto.
  Mas alem disto existe um pensamento de imagens primordiais, em símbolos 
  que são mais velhos que o homem histórico, que são natos 
  no homem desde os primórdios da humanidade, eternamente vivos, superando 
  todas as gerações, e que ainda são a fundação 
  da psique humana.
  Somente é possível viver uma vida em harmonia quando nos estamos 
  em harmonia com estes símbolos: a sabedoria é um retorno para 
  eles.
  Não é uma questão nem de crença nem de conhecimento, 
  mas a concordância do nosso pensamento com as imagens primordiais do nosso 
  inconsciente.
  Estes símbolos são as matrizes impensáveis de todos nossos 
  pensamentos, não interessando o que nossa mente consciente possa cogitar.
  Um destes pensamentos primordiais é a idéia de vida apos a morte.
  A ciência e estas imagens primordiais são incomensuráveis.
  São dados irracionais, condições a priori da imaginação, 
  que simplesmente estão lá, cujo sentido e significação 
  a ciência pode somente investigar a posteriori, da mesma forma que investiga 
  a função da glândula tireóide. Antes do século 
  l9 a glândula tireóide era considerada como um órgão 
  sem finalidade porque não era entendida.
  Seria igual miopia de nos hoje chamar estas imagens primordiais sem sentido.
  Para mim estas imagens são algo como órgãos psíquicos 
  e eu os trato com o maior respeito. Muitas vezes acontece que eu tenho que dizer 
  a algum paciente: "Sua imagem de Deus ou sua ideia de imortalidade esta 
  atrofiada, conseqüentemente seu metabolismo psíquico esta fora de 
  equilíbrio''".
  A antiga "athanasias pharmakon", medicina da imortalidade, é 
  mais profunda e significativa do que supomos.
  Em conclusão, eu gostaria de voltar à comparação 
  com o sol. Os arcos completos de 180 graus são divisíveis em 4 
  partes. A primeira quarta parte, ao lado oriente, e a infância, um estado 
  no qual nos somos problemas para s outros, mas não ainda conscientes 
  de quais problemas são nossos. Problemas conscientes preenchem a segunda 
  e a terceira quartas partes; enquanto que na ultima, na idade avançada, 
  nós voltamos novamente à condição em que nós 
  nos tornamos algo com. um problema para os outros.
  A idade infantil e a senil são, claro, extremamente diferentes, e mesmo 
  assim, elas têm uma coisa em comum: submersão nos acontecimentos 
  do inconsciente psíquico. Uma vez que a mente da criança cresce 
  do inconsciente seus processos psíquicos, embora não facilmente 
  acessáveis, não são tão difíceis de acessar 
  como os dos muito velhos, que esta se afundando novamente no inconsciente, e 
  que progressivamente desaparece dentro dele.
  A infância e a senilidade são estágios da vida sem quaisquer 
  problemas conscientes, razão pela qual eu não os tomei em consideração 
  aqui.