O CASAMENTO COMO UMA RELAÇÃO PSICOLÓGICA
Para formar uma idéia básica sobre o que Jung tem a dizer para o caso de James Joyce, ou Ulysses, ver também "Os Estágios da Vida".Carl G. Jung
Collected Works, Vol. 17
De:"The Development 
  of Personality" Vol 17,pages 324-345
  (Inicialmente publicado como "Die Ehe als psychologische Beziehung" 
  em "Das Ehebuch" (Celle, 1925), editado pelo Conde Hermann Keyserling, 
  traduzido por Theresa Duerr na versão Inglesa, "O Livro do Casamento" 
  (New York, 1926). O original foi republicado na "Seelenprobleme der Gegenwart", 
  (Zurich, 1931). O ensaio foi novamente traduzido para o Inglês por H.G. 
  e Cary F.Baynes na "Contributions to Analytícal Psychology" 
  (Londres e N.York, 1928)), e esta versão foi usada para esta tradução, 
  extraída do "The Portable Jung", editado por Joseph Campbell, 
  Copyright "The Viking; Press, New York, 1971"
  
Visto como uma relação 
  psicológica, o casamento é uma estrutura altamente complexa, feita 
  de uma serie completa de fatores objetivos e subjetivos, a maioria de natureza 
  bastante heterogênea.
  Como desejo confinar-me aos problemas puramente psicológicos do casamento, 
  eu preciso desprezar do objetivo principal fatores de natureza social e legal, 
  contudo estes fatores não falham em ter uma influencia pronunciada na 
  relação psicológica entre os parceiros no casamento
  Sempre que falamos de uma relação psicológica, nos pressupomos 
  que ela é CONSCIENTE, porque não existe tal coisa como uma relação 
  psicológica entre duas pessoas que estão em estado de inconsciência. 
  Do ponto de vista psicológico eles não teriam relação 
  alguma. De qualquer outro ponto de vista, do fisiológico, por exemplo, 
  eles poderiam ser vistos como relacionados, mas não se poderia chamar 
  este relacionamento de psicológico. É preciso admitir que embora 
  tal total inconsciência como eu assumi nunca ocorra, existecontudo um 
  grau parcial de inconsciência considerável, e a relação 
  psicológica é limitada ao grau para o qual esta inconsciência 
  existe.
  Na criança, a consciência emerge das profundezas da vida psíquica, 
  no inicio como ilhas separadas, as quais gradualmente se unem formando um "continente", 
  uma massa de terra continua de consciência. Desenvolvimento mental progressivo 
  significa, na verdade, extensão da consciência. Somente com o emergir 
  da consciência, e nunca antes, uma relação psicológica 
  se torna possível. Tanto quanto sabemos, a consciência é 
  uma ego-consciência. Afim de ser consciente de mim mesmo, eu preciso ser 
  capaz de me distinguir dos outros. Relacionamento somente pode correr quando 
  esta distinção existe. Mas embora a distinção possa 
  ser feita de forma genérica, normalmente ela é incompleta, porque 
  grandes áreas da vida psíquica ainda permanecem inconscientes. 
  Como não é possível fazer diferenciação no 
  que tange ao conteúdo do inconsciente, neste terreno nenhum relacionamento 
  pode ser estabelecidos; ali ainda reina a condição de inconsciência 
  original da identidade primitiva do ego com os outros, em outras palavras, uma 
  completa ausência de relacionamento.
  A pessoa jovem em idade de casar possui, claro, uma ego-consciência (as 
  garotas mais do que os homens, como regra), mas como uma vez que ela recentemente 
  emergiu das brumas da inconsciência original, ela tem com certeza grandes 
  áreas que ainda permanecem na sombra e que tornam impossível, 
  como conseqüência, ate este limite a formação da relação 
  psicológica. Isto significa, na pratica, que o jovem (ou a jovem) pode 
  somente ter um entendimento incompleto de si mesmo e dos outros e, por isto 
  mesmo, esta assim imperfeitamente informado(a) quanto aos seus. Via de regra 
  os motivos que a levam (ou o levam ) são largamente inconscientes. Subjetivamente, 
  claro, ela(e) pensa que esta muito consciente e conhecedora da situação, 
  porque nós freqüentemente superestimamos o conteúdo da consciência 
  e é uma grande e surpreendente surpresa descobrir que o que considerávamos 
  o cume final não é nada senão o primeiro passo de uma subida 
  muito longa. Quanto maior a área de inconsciência, quanto menor 
  o casamento é matéria de livre escolha, como é mostrado 
  subjetivamente na compulsão fatal que uma pessoa sente quando esta agudamente 
  apaixonada. A compulsão pode existir mesmo que a pessoa não esteja 
  apaixonada, embora de forma menos agradável.
  As motivações inconscientes são de natureza pessoal e geral. 
  Primeiramente existem os motivos de influencia dos pais. O relacionamento entre 
  o jovem e sua mãe, e a da jovem com o pai, é fator determinante 
  neste aspecto. É a força da ligação aos pais que 
  inconscientemente influencia a escolha do marido ou esposa, tanto positiva como 
  negativamente. Amor consciente por qualquer dos pais favorece a escolha de um 
  companheiro(a) semelhante enquanto que uma ligação inconsciente, 
  (que não precisa por nenhuma razão ser expressada conscientemente 
  como amor) faz a escolha difícil e impõe modificações 
  características. Afim de entendê-las, precisa-se conhecer primeiramente 
  todas as causas da ligação inconsciente aos pais e em que caso 
  ela forçosamente modifica, ou mesmo impede, a escolha consciente. Duma 
  maneira geral, toda a vida que os pais poderiam ter vivido, mas da qual eles 
  se frustraram por não fazê-lo por motivos artificiais, é 
  passada para as crianças de forma substitutiva. Isto quer dizer que as 
  crianças são inconscientemente empurradas na direção 
  intencionada para compensar por tudo que foi deixado vazio nas vidas de seus 
  pais. Desta forma, pais excessivamente moralistas tem o que são chamados 
  crianças "imorais" ou então um pai excessivamente perdulário 
  terá um filho morbidamente ambicioso e assim por diante. Os piores resultados 
  provem de pais que permaneceram artificialmente inconscientes. Tome por exemplo 
  o caso da mãe que delíberadamente se torna inconsciente de tal 
  maneira a não perturbar a imagem falsa de um casamento satisfatório. 
  Inconscientemente ela vai atar seu filho a ela, mais ou menos como um substituto 
  pelo marido. O filho, se não for forçado diretamente na homossexualidade, 
  é compelido a modificar sua escolha de maneira a contrariar sua verdadeira 
  natureza. Ele pode, por exemplo, casar um. garota que é obviamente inferior 
  a sua mãe e assim incapaz de competir com ela; ou ele se apaixonara por 
  uma mulher de disposição tirânica ou dominadora, que talvez 
  tenha êxito em desligá-lo de sua mãe. A escolha do companheiro, 
  se os instintos não foram viciados, pode permanecer livre destas influencias, 
  mas mais cedo ou mais tarde elas se farão sentir como obstáculos. 
  Uma escolha mais ou menos instintiva pode ser considerada a melhor do ponto 
  de vista de manter a espécie, mas não é sempre feliz psicologicamente, 
  porque existe freqüentemente uma enorme diferença entre a personalidade 
  puramente instintiva e aquela que é individualmente diferencial. E, embora 
  em tais casos a raça possa ser revigorada por uma escolha puramente instintiva, 
  a felicidade pessoal tende a sofrer.(A idéia de "instinto" 
  é, claro, nada mais do que uma coleção de termos de todos 
  fatores orgânicos e psíquicos cuja natureza é na sua maior 
  parte desconhecida).
  Se o indivíduo for visto somente como um instrumento para manter a espécie, 
  então a escolha puramente instintiva do companheiro é de longe 
  a melhor. Mas, uma vez que as fundações de tal escolha são 
  inconscientes, somente um tipo de ligação impessoal pode ser construída. 
  entre eles, tal como pode ser observada ao limite da perfeição 
  entre os povos primitivos. Isto se pudermos falar aqui de algum relacionamento, 
  pois, na melhor das hipóteses, isto é somente uma pálida 
  reflexão do que queremos dizer, um estado muito distante de relacionamento 
  com uma característica decididamente impessoal, totalmente regulada pelos 
  costumes e preconceitos tradicionais, o protótipo de todo casamento convencional.
  Portanto, se a razão, ou o cálculo, ou o tão falado "amor 
  materno/paterno" dos pais não arranje o casamento, e os sentimentos 
  puros da criança não tenham sido viciados por falsa educação 
  ou por influencias de complexos dos pais acumulados ou negligenciados, a escolha 
  seguira normalmente as motivações inconscientes do instinto. Inconsciência 
  resulta em não diferenciação, ou identidade inconsciente. 
  A conseqüência prática disto é que o indivíduo 
  pressupõe no outro uma estrutura psicológica similar à 
  sua. Vida sexual normal, tanto como uma experiência compartilhada com 
  fins aparentemente similares, tendem a reforçar o sentimento de unidade 
  e identidade. Este estado é descrito como de completa harmonia e é 
  glorificado como uma grande felicidade ("um só coração 
  e uma só alma") não sem boa razão, uma vez que o retorno 
  a condição de unidade inconsciente é como o retorno a idade 
  infantil. Dai os gestos infantis de todos os amantes. Ainda mais é um 
  retorno ao útero da mãe, nas profundidades da concepção 
  de uma criatividade não ainda consciente. É na verdade, uma genuína 
  e incontestável experiência do Divino cuja força transcendental 
  oblitera e consome tudo no indivíduo; uma comunhão real com a 
  vida e o poder impessoal do destino. A vontade do indivíduo para auto-possessão 
  é quebrada: a mulher se transforma em mãe, o homem em pai, e, 
  desta maneira, ambos são roubados de sua liberdade e feitos instrumentos 
  da sede da vida por ela mesma.
  Aqui a relação permanece dentro dos limites dos objetivos biológicos, 
  a preservação da espécie. Uma vez que este objetivo é 
  de natureza coletiva, a ligação psicológica entre o marido 
  e a mulher também será essencialmente coletiva, e não pode 
  ser olhada como um relacionamento individual no sentido psicológico. 
  Nós somente poderemos falar disto quando a natureza das motivações 
  inconscientes forem reconhecidas e a identidade original quebrada. Raramente 
  o casamento se desenvolve para uma relação individual maciamente 
  e sem crises. Não existe nascimento de consciência sem dor.
  As maneiras que levam para a realização consciente são 
  muitas mas seguem leis definidas. Duma maneira geral, a mudança começa 
  na virada da segunda metade da vida. O período intermediário da 
  vida é de enorme importância psicológica.
  Quando criança, a pessoa começa sua vida psicológica dentro 
  de limites muito estreitos, dentro do circulo mágico da mãe e 
  da família. Com sua progressiva maturação, ela abre seu 
  horizonte e sua esfera de influencia; suas esperanças e intenções 
  são dirigidas com a finalidade estender o objetivo do seu poder pessoal 
  e suas possessões; o desejo avança para fora no mundo numa distancia 
  cada vez maior. A vontade da pessoa se torna mais e mais idêntica com 
  os objetivos naturais perseguidos pelas suas motivações inconscientes. 
  desta maneira, a pessoa respira sua vida nas coisas, ate que finalmente elas 
  começam a viver por si mesmas e se multiplicar; e imperceptivelmente 
  a pessoa é ultrapassada por elas. As mães são subjugadas 
  pelos seus filhos, os homens pelas suas próprias criações, 
  e o que foi originalmente trazido à existência com apenas trabalho 
  e o maior dos esforços não pode mais ser mantido. Primeiro era 
  paixão, depois se transformou em dever, e, finalmente em carga intolerável, 
  um vampiro que suga a vida do seu criador. A idade madura é o momento 
  da grande abertura, quando a pessoa ainda se dá ao trabalho com toda 
  sua energia e toda sua vontade. Mas neste momento, nasce o alvorecer, e a segunda 
  metade da vida começa. A paixão transforma sua face e é 
  agora chamada obrigação; "eu quero" se transforma inexoravelmente 
  em "eu preciso", e as curvas da estrada que uma vez trouxeram surpresa 
  e descobertas se tornam monótonas pelo uso. O vinho fermentou e começa 
  a assentar e clarear. Tendências conservadoras se desenvolvem se tudo 
  for bem; em vez de olhar para frente a pessoa olha para trás, a maior 
  parte do tempo involuntariamente, e a pessoa percebe com. sua vida se desenvolveu 
  ate este ponto. As motivações reais são procuradas e verdadeiras 
  descobertas são feitas. O reconhecimento critico de si mesmo e de seu 
  destino permite à pessoa conhecer suas peculiaridades. Mas estas visões 
  intimas não vêm para ela facilmente, elas são obtidas através 
  dos mais severos dos choques.
  Uma vez que os objetivos da segunda metade da vida são diferentes dos 
  da primeira metade, hesitar muito na atitude juvenil produz uma divisão 
  da vontade. A consciência ainda pressiona para frente em obediência, 
  como se fosse pela sua própria inércia, mas o inconsciente fica 
  para trás, porque a força e a decisão íntimos necessários 
  para sua posterior expansão foram enfraquecidas. Esta disputa consigo 
  mesmo originam descontentamento e uma vez que o indivíduo não 
  esta consciente do real estado das coisas ele projeta suas causas no parceiro. 
  Uma atmosfera crítica então se desenvolve, o preludio necessário 
  para realização do consciente. Normalmente este estado de coisas 
  não começa simultaneamente para ambos os parceiros. Mesmo os melhores 
  casamentos não conseguem expurgar as diferenças individuais tão 
  completamente que o estado mental dos parceiros é absolutamente idêntico. 
  Na maioria dos casos um deles se adaptará ao casamento mais rapidamente 
  que o outro. Aquele que está baseado numa relação positiva 
  com os pais achará pouca ou nenhuma dificuldade em ajustar-se com seu 
  ou sua parceira, enquanto o outro pode ser impedido por um laço inconsciente 
  profundo ligado aos pais. Ele desta maneira somente encontrará completa 
  adaptação posteriormente e, porque a conseguiu com maior dificuldade, 
  pode mesmo provar ser a mais durável.
  Estas diferenças de ritmo e o grau de desenvolvimento espiritual são 
  as principais razões das dificuldades típicas que fazem sua aparição 
  nos momentos críticos. Ao falar em "desenvolvimento espiritual", 
  da personalidade, eu não quero dizer que implica numa natureza especialmente 
  rica ou magnânima. Não é de forma nenhuma este o caso. Eu 
  quero dizer, ao invés disto, um. certa complexidade mental ou de natureza 
  comparável como uma pedra preciosa de muitas facetas, e outra pedra preciosa 
  da forma de um simples cubo. Existem muita. naturezas multi-facetadas e um tanto 
  problemáticas carregadas com traços hereditários que são 
  muitas vezes difíceis de reconciliar. Adaptação a tais 
  naturezas, ou sua adaptação a personalidades mais simples, é 
  sempre um problema. Estas pessoas, tendo uma certa tendência à 
  dissociação, geralmente tem a capacidade de separar os traços 
  irreconciliáveis por longos períodos, desta forma passando por 
  pessoas muito mais simples do que são; ou pode ser que sua multifacetação, 
  sua versatilidade, os leve para um "charme" particular. Seus parceiros 
  podem facilmente se perder em tal natureza labirintea, encontrando nela tal 
  abundância de possíveis experiências que seus interesses 
  pessoais são completamente absorvidos, algumas vezes de maneira não 
  muito agradável, uma vez que sua ocupação exclusiva consiste 
  em seguir o outro através das curvas e viradas do seu caráter. 
  Existe sempre tanta experiência disponível que a personalidade 
  mais simples é envolvida, senão submersa pela outra, ela é 
  engolida pelo seu parceiro mais complexo e não enxerga sua saída. 
  É uma ocorrência regular para a mulher ser totalmente contida, 
  espiritualmente no seu marido, e para seu marido ser totalmente contido emocionalmente 
  e. sua mulher. Isto poderia ser descrito como o problema do "conteúdo" 
  e "o-que-contem".
  Aquela (pessoa) que é contida se sente como se vivesse inteiramente dentro 
  do confinamento do casamento, sua atitude para parceiro do casamento é 
  individida; fora do casamento não existem obrigações essenciais 
  ou interesses pendentes. O aspecto desagradável deste companheirismo 
  é a inquietante dependência sobre a personalidade do outro que 
  nunca pode ser vista inteiramente, e por isto não é acreditável 
  e confiavel. A grande vantagem deste relacionamento reside na sua indivisibilidade 
  e este fator não pode ser subestimado na economia psíquica.
  Aquela (pessoa) que contém, (Nos parágrafos 
  que se seguem a colocação masculina ou feminina não expressa 
  a condição da mulher ou do homem, qualquer dos dois pode encarnar 
  qualquer papel e vice-versa. Foi seguido o texto. REC) por sua vez, 
  e que está em concordância com sua tendência para dissociação 
  e tem uma necessidade especial de unificar-se num amor indivisível pela 
  outra pessoa, será deixado para trás neste esforço pela 
  personalidade mais simples, o que é naturalmente muito difícil 
  para ela. Enquanto que ela está procurando na ultima todas as sutilezas 
  e complexidades que a complementariam, e corresponderiam às suas próprias 
  facetas, ela é perturbada pela simplicidade do outro. Uma vez que dentro 
  de circunstâncias normais a simplicidade sempre tem vantagem sobre a complexidade, 
  lá muito cedo será obrigada a abandonar seus esforços para 
  levantar sutis e intricadas reações na natureza mais simples. 
  E muito cedo, seu parceiro, que em concordância com sua natureza mais 
  simples espera respostas simples dela, lhe dará bastante o que fazer 
  constelando suas complexidades com sua perpétua insistência em 
  respostas simples. Por compulsão, ela precisa retirar-se em si mesma 
  diante da influencia da simplicidade. Qualquer esforço mental, como o 
  processo da conscientização ele mesmo, é de tanto esforço 
  para o homem comum que ele invariavelmente prefere ser simples, mesmo que isto 
  não seja verdade. E quando isto representa meia verdade, então, 
  para ele está bom. A pessoa de natureza mais simples trabalha no método 
  mais complicado, como um cômodo que é muito pequeno, que não 
  permite espaço suficiente para a outra. A natureza complicada, por outro 
  lado, dá para o mais simples muitos cômodos com muito espaço, 
  de tal maneira que ela nunca sabe aonde ela pertence. Desta maneira é 
  natural que a pessoa mais complicada contenha a mais simples. O primeiro não 
  pode ser absorvido no ultimo, mas o contém sem ser ele mesmo contido. 
  Alem disto, a pessoa mais complicada tem talvez uma necessidade maior de ser 
  contida que a outra, ela se sente sempre fora do casamento e em conformancia 
  com isto sempre desempenha o papel problemático. Quanto mais aquele que 
  é contido tenta segurar, mais aquele que contem se sente fora da relação. 
  O que é contido se empurra na relação por segurar e quanto 
  mais ele puxa, menos aquele que contém tem capacidade de responder. Desta 
  forma, o indivíduo tende a espiar fora da janela, sem duvida inconscientemente 
  no início; mas no inicio da idade madura acorda nele um desejo mais insistente 
  por esta unidade e indivisibilidade que é especialmente necessária 
  para ele por conta de sua natureza dissociada. Nesta conjuntura, as coisas estão 
  aptas a ocorrer de tal maneira que o conflito vem a tona. Ele se torna consciente 
  do fato que está procurando completar-se, procurando o conteúdo 
  e a indivisão que sempre lhe faltou. Para o contido isto é somente 
  uma confirmação da insegurança que ele sempre sentiu tão 
  dolorosamente; ele descobre que nos cômodos que aparentemente lhe pertenciam 
  vivem outros hospedes não desejados. A esperança de segurança 
  desaparece e seu desapontamento o impele para si mesmo ao menos que por esforço 
  desesperado e violento ele possa conseguir forçar seu parceiro a capitular, 
  extorquindo a confissão que seu desejo por unidade não era nada 
  senão uma fantasia mórbida infantil. Se estas táticas falharem, 
  sua aceitação da derrota lhe fará bem verdadeiro, pois 
  que o forçará a reconhecer que a segurança que ele tão 
  desesperado estava procurando no outro tem que ser encontrada em si mesmo. Desta 
  maneira ele se encontra em si mesmo e descobre na sua própria natureza 
  simples todas as complexidades que seu contenedor tinha procurado em vão.
  Se o contenedor não quebra em face do que costumamos chamar "infidelidade", 
  mas continua acreditando na justificação intima do seu desejo 
  por unidade, ele terá que guardar para si sua auto-divisão para 
  aquele momento. A dissociação não é curada pela 
  separação, mas por uma desintegração mais completa. 
  Todas as forças que angustiam por unidade, todo o desejo saudável 
  de individualidade resistirá à desintegração e, 
  desta maneira ele se tornará consciente da possibilidade de integração 
  intima, o que antes ele sempre tinha procurado fora de si. Desta maneira ela 
  encontrará finalmente seu prêmio no seu indivisível eu.
  Isto é o que acontece muito freqüentemente na idade madura, e nesta 
  sabedoria nossa milagrosa natureza humana força sua transição 
  da primeira metade da vida para a segunda. É uma metamorfose em que o 
  indivíduo parte do estado de ser apenas uma ferramenta da natureza instintiva 
  para outro estado em que ele não é mais uma ferramenta, mas sim 
  ele mesmo: uma transformação de natureza em cultura, de instinto 
  em espirito.
  É necessário tomar grande cuidado para não interromper 
  este desenvolvimento necessário por atos de violência moral, pois 
  quaisquer tentativas de criar uma atitude espiritual pela amputação 
  ou supressão dos instintos é uma falsificação. Nada 
  é mais repulsivo do que uma espiritualidade furtivamente luxuriosa; é 
  tão desagradável como sensualidade grosseira. Mas a transição 
  toma grande tempo e a grande maioria das pessoas afunda nos primeiros estágios. 
  Se nós pudéssemos, como os primitivos deixar o inconsciente tomar 
  conta de todo este processo de desenvolvimento psicológico que o casamento 
  proporciona, estas transformações poderiam proceder mais completamente 
  e sem tanto atrito. Muito freqüentemente entre os chamados "primitivos" 
  cruzamos com personalidades espirituais que imediatamente os inspiram respeito, 
  como se elas fossem os produtos maduros de um destino imperturbável. 
  Eu falo aqui de experiência pessoal. Mas entre nós europeus atuais 
  podemos encontrar alguém não foi deformado por atos de violência 
  moral? Nós ainda somos bárbaros que ainda acreditamos em ascetiscismo 
  e seu oposto. Mas a roda da historia não pode voltar; nós somente 
  podemos lutar em direção a uma atitude que nos permitirá 
  viver nosso destino tão imperturbavelmente como o primitivo pagão 
  em nós realmente deseja. Somente nesta condição nós 
  podemos ter certeza de não estarmos pervertendo espiritualidade em sensualidade 
  e vice-versa; porque ambas tem que viver, cada uma gerando vida para a outra.
  A transformação que eu descrevi brevemente acima é a essência 
  final da relação psicológica no casamento. Muito poderia 
  ser dito sobre as ilusões que serve para os fins da natureza e que trazem 
  as transformações que são características da idade 
  madura. A harmonia peculiar que caracteriza o casamento durante a primeira metade 
  da vida - quando o ajuste teve êxito - é largamente baseada na 
  projeção de certas imagens arquétipos, como a fase critica 
  o faz claro.
  Todo homem carrega dentro dele a imagem 
  eterna da mulher, não a imagem desta ou daquela mulher, mas uma ímagem 
  feminina definida. Esta imagem é fundamentalmente inconsciente, um fator 
  hereditário de origem nos primórdios gravada no sistema vivo orgânico 
  do homem, como uma impressão do "arquétipo" de toda. 
  as experiências ancestrais da fêmea, um deposito, como se fosse, 
  de todas as impressões jamais feitas por mulher- em resumo, - um sistema 
  herdado de adaptação psíquica. Mesmo que não existissem 
  mulheres, seria ainda possível, em dado momento, deduzir desta imagem 
  inconsciente, exatamente como uma mulher deve ser constituída psiquicamente. 
  O mesmo é verdade para a mulher: Ela também tem sua imagem inata 
  do homem. Atualmente sabemos da experiência que seria mais preciso descrever 
  isto como uma imagem do homem enquanto que no caso do homem é antes a 
  imagem da mulher. Uma vez que esta imagem é inconsciente, lá é 
  sempre inconscientemente projetada sobre a pessoa do amado e é uma das 
  razões básicas por atração apaixonada ou por aversão. 
  Eu chamo isto de "anima", enquanto que a escolástica 
  questão "Habet mulier animam?" (tem a mulher 
  "anima") eu a acho especialmente interessante, uma vez 
  que do meu ponto de vista é uma pergunta inteligente porque a dúvida 
  parece justificada. A mulher não tem "anima", 
  ou alma, mas ela tem "animus" A "anima" 
  tem um caráter erótico, emocional, o "animus" 
  um racional. Por isto que a maior parte do que os homens falam sobre erotismo 
  feminino e particularmente sobre a vida emocional feminina, é derivado 
  das próprias projeções de sua "anima" 
  e, por isto mesmo, distorcidas. Por outro lado, as idéias e fantasias 
  que as mulheres fazem sobre os homens vem da atividade do "animus", 
  que produz um inesgotável suprimento de argumentos ilógicos e 
  explicações falsas.
  "Anima" e "animus" são 
  ambos caracterizados por uma extraordinária multifacetação. 
  No casamento sempre é o contido que projeta esta imagem sobre o "contenedor" 
  enquanto que este ultimo é somente parcialmente capaz de projetar sua 
  imagem inconsciente sobre seu parceiro. Quanto mais unificado e simples seu 
  parceiro, menos completa a projeção. Sendo que, neste caso, uma 
  imagem altamente fascinante fica pendendo como se estivesse no ar, como se estivesse 
  esperando ser preenchida por uma pessoa viva.
  Existem certos tipos de mulheres que parecem ser feitas pela natureza para atrair 
  projeções da "anima". Verdadeiramente 
  pode-se falar quase de um "tipo animal'. O tão repetido 
  caracter tipo "esfinge" é parte indispensável deste 
  equipamento, também um ar equivoco, uma característica fugaz e 
  intrigante - não indefinida de forma a nada a oferecer, mas de uma indefinição 
  cheia de promessas, como o silencio que fala da Mona Lisa. Uma mulher deste 
  tipo é ao mesmo tempo velha e jovem, mãe e filha, de castidade 
  mais do que duvidavel, infantil e ainda assim maliciosa e capaz de desarmar 
  qualquer homem.(A Ellis Regina canta uma música do 
  Chico Buarque que descreve isto admiravelmente. O filme "Rebecca"discute 
  isto. REC) Nenhum homem de verdadeiro poder intelectual pode ser 
  "animus", porque o "animus" 
  tem que ser um "senhor", não no sentido de apenas boas idéias, 
  mas como também de palavras adequadas - palavras aparentemente cheias 
  de sentido que pretendem deixar muito sem ser dito. Ele precisa também 
  pertencer à classe "incompreendida", ou de alguma maneira estar 
  desajustado com seu ambiente, de tal maneira que a idéia de auto-sacrificio 
  possa se insinuar ela mesma. Ele precisa ser um herói. questionável, 
  um homem com possibilidades, o que não é dizer que uma projeção 
  de um "animus" não possa descobrir um herói 
  real muito antes dele se tornar perceptível à percepção 
  lerda dos indivíduos de "inteligência media". (O 
  ator James Dean, no filme "Juventude Transviada", é um ótimo 
  exemplo disto. REC)
  Para o homem tanto quanto para a mulher, desde que eles sejam "contenedores", 
  o preenchimento desta imagem é uma experiência carregada de conseqüências, 
  porque ela possui a possibilidade da resposta de suas próprias complexidades 
  respondida por uma diversidade correspondente. Grandes horizontes parecem se 
  abrir nos quais o indivíduo se vê abraçado e contido. Eu 
  disse "parecem" intencionalmente, porque a experiência pode 
  ser de duas faces. Tanto pode a projeção do "animus" 
  da mulher freqüentemente pegar um homem de real valor e não reconhecido 
  na massa e na realidade ajuda-lo a alcançar seu verdadeiro destino com 
  seu suporte moral, como pode também o homem criar para si mesmo uma "femme 
  ínspiratrice" pela projeção de sua "anima". 
  Mas muito freqüentemente acaba sendo uma ilusão com conseqüências 
  destrutivas, um. derrota porque sua fé não foi suficientemente 
  forte. Para os pessimistas, eu diria que estas imagens psíquicas primordiais 
  tem um extraordinário valor positivo, mas para os otimistas eu preciso 
  avisá-los contra fantasias e a semelhança das aberrações 
  mais absurdas.
  Não se deve de maneira nenhuma considerar esta projeção 
  como sendo uma relação consciente. Nos primeiros estágios, 
  é longe disto, porque cria uma dependência compulsiva baseada em 
  motivos inconscientes não biológicos. A obra "She" 
  de Rider Haggard  (Veja uma apresentação 
  visual sobre o filme e a obra) dá alguma indicação 
  do curioso mundo de idéias que existe sob a projeção da 
  "Anima". (Extendendo um pouco os exemplos, Greta 
  Garbo, Rodofo Valentino, Clark Gable, Marylin Monroe, etc., etc., incarnavam 
  isto no imaginário das pessoas. REC)
  São em essência de conteúdo espiritual, freqüentemente 
  disfarçados eroticamente, fragmentos óbvios de uma mentalidade 
  primitiva mitológica que consiste de arquétipos e cuja totalidade 
  constitui o inconsciente coletivo. Desta maneira, tal relação 
  esta no fundo do coletivo e não do indivíduo. (Benoit, que criou 
  "L'Atlantide", uma figura de fantasia similar até em 
  detalhes a "She", nega que plagiou Rider Haggard) (Veja 
  outra apresentação sobre esta divergência)
  Se tal projeção se fixa em alguém dos parceiros dum casamento, 
  uma relação espiritual coletiva conflita com o coletivo biológico 
  e produz no "contenedor" a divisão ou desintegração 
  que eu já descrevi anteriormente. Se ele (a) for capaz de manter sua 
  cabeça fora da água, ele (a) vai se encontrar através deste 
  mesmo conflito. No caso da projeção, embora perigosa nela mesma, 
  o (a) terá ajudado a passar de uma relação coletiva para 
  uma individual. Esta quantidade de plena consciência de relacionamento 
  que o casamento traz. Uma vez que o objetivo desta discussão é 
  a psicologia do casamento, a psicologia da projeção não 
  nos deve preocupar aqui. É suficiente mencioná-1a como um fato.
  Não se pode manusear com a relação psicológica do 
  casamento sem mencionar, mesmo com risco de incompreensão, a natureza 
  das suas transições críticas. Como é muito bem sabido, 
  não se entende nada de natureza psicológica se não se experimentou 
  em si mesmo. Não que isto previna alguém de sentir-se convencido 
  que seu próprio julgamento é o único verdadeiro e competente. 
  Este fato desconcertante vem da necessária supervalorização 
  do conteúdo momentâneo da consciência, porque sem esta concentração 
  de atenção ninguém poderia ser consciente. Desta forma, 
  que cada período da vida tem sua verdade psicológica, o mesmo 
  aplica-se a todos estágios de desenvolvimento psicológico. Existem 
  alguns estágios que somente uns poucos podem alcançar, sendo uma 
  questão de raça, família, educação, talento 
  e paixão. A natureza é aristocrática. O homem normal é 
  uma ficção, ainda que certas leis gerais validas existam. A vida 
  psíquica é um desenvolvimento que pode ser facilmente preso nos 
  níveis mais baixos. É como se cada indivíduo tivesse uma 
  gravidade especifica, pela qual ele sobe, ou afunda, para o nível que 
  ele encontra seu limite. Suas convicções e pontos de vista serão 
  determinados proporcionalmente. Não é de se estranhar, portanto, 
  que um numero muito maior de casamentos encontre seu limite psicológico 
  superior no preenchimento da finalidade biológica, sem dano para a saúde 
  espiritual ou moral. Relativamente poucas pessoas caem em profunda desarmonia 
  consigo mesmos. Aonde existe uma grande pressão de fora, o conflito não 
  é capaz de desenvolver muita tensão dramática por pura 
  falta de energia. A insegurança psicológica, contudo, aumenta 
  em proporção da segurança social, inconsciente no inicio, 
  causando neuroses e então conscientemente, trazendo consigo separação, 
  discórdia, divórcios e outras desordens conjugais. Em níveis 
  mais altos, novas possibilidades de desenvolvimento psicológico são 
  distinguidas, tocando na esfera da religião aonde o julgamento critico 
  para.
  O progresso pode ser permanentemente preso em quaisquer destes níveis, 
  com completa inconsciência do que poderia ter se seguido no próximo 
  estágio de desenvolvimento. Como regra, a graduação para 
  o próximo estágio é barrada por preconceitos violentos 
  e medos supersticiosos. Isto, contudo, serve a um fim muito útil, uma 
  vez que um homem que é jogado por acidente a viver num nível muito 
  alto para ele se torna um tolo e uma ameaça.
  A natureza não é somente aristocrática, ela também 
  é esotérica.(para iniciados) Alem 
  disto, nenhum homem de entendimento será por isto induzido a fazer segredo 
  do que ele sabe, porque ele percebe de maneira clara que o segredo do desenvolvimento 
  psíquico não pode nunca ser traído, simplesmente porque 
  o desenvolvimento é uma questão de capacidade individual.