Símbolos

A idéia de símbolo pode estar associada com:

- Figuras ex: A estrela da Texaco, a concha da Shell, o ninho da Nestle, etc.
- Marcas ex: Ford, Chevrolet, VW, Fiat, cigarros, bebidas, comida, etc.
- Diagramas ex: As barras da Fiat, a cruz da Chevrolet, a marca do Bradesco, etc.
- Imagens ex: O cow boy da Marlboro, a águia americana, o urso russo, etc.
- Sons ex: Hinos, aberturas de programas de TV, etc
- Perfumes ex: Chanel no. 5, pão fresco, jasmim, etc.
- Tato ex: Seda, aço, veludo, etc.
- Gosto ex: Comida francesa, baiana, etc. Vinhos, bebidas, etc.
- 5 sentidos: Visão, audição, tato, paladar e olfato
- Religião

Simbolos religiosos


Porém, o símbolo mais poderoso que existe é a palavra. Talvez tenha sido a invenção que viabilizou o homem. Qualquer palavra é um símbolo. Escrita ou falada.

O uso de palavras para comunicação consiste em um sistema de símbolos com significados atribuídos. A palavra não é simplesmente um ruído (ou uma marca em uma página impressa); uma palavra é um ruído ou uma marca impressa com um significado atribuído. Que varia para cada idioma e para cada sistema de escrita. Tem que ser aprendido para que se saiba o que está escrito.

Culturas orais e culturas alfabéticas

As palavras, que usamos para denominar as coisas que nos cercam ou que temos dentro de nós, dependendo do uso que fazemos ao criar ou viver nossa cultura, cria uma interação com estímulos visuais completamente diferente num caso e no outro.
A alfabetização, a palavra e a imagem impressa, nos condiciona a ver em perspectiva, ou três dimensões. Supomos que isto seja norma. Em ambientes como em nossas escolas, onde vão somente pessoas que foram alfabetizadas e tem contato estreito com a palavra escrita, isto não é percebido e estamos de tal forma condicionados que temos dificuldade de entender do que se trata, pois imaginamos que todas as pessoas interagem com a realidade como nós, alfabetizados.
Para esclarecer isto, e apontar características e potencialidades de nossos sentidos, vamos apresentar o caso que Marshal McLuhan nos traz sobre a apresentação de filmes à platéias africanas e o caso do desenho animado com as crianças.

Porque sociedades não alfabetizadas não conseguem "ver" filmes e fotos

"Film Literacy in Africa" (Alfabetização por filmes na Africa),

cit. Em "A Galáxia de Gutemberg" Marshall McLuhahn, EDUSP, 1970

O Prof. John Wilson, do Instituto Africano da Universidade de Londres, na tentativa de utilizar filmes para ensinar os indígenas a ler, e ao mesmo tempo educá-los, conta que num filme especialmente preparado para mostrar os perigos de água parada e de acúmulo de lixo aconteceu o seguinte:
Foi feito um filme, que foi passado em câmara lenta, de um homem, um Inspetor Sanitário, mostrando cuidadosamente como uma família deve agir para se desembaraçar de água estagnada, drenar poças, juntar as latas vazia e guardá-las a salvo da chuva, etc.
Este filme foi mostrado a uma platéia africana de indígenas e ao fim do filme lhes foi perguntado o que tinham visto.
Eles responderam: "uma galinha", ou alguma ave doméstica.
As pessoas que fizeram o filme ignoravam totalmente que havia uma ave nele!
Procurando tal ave, revendo o filme, com efeito confirmaram que aparecia correndo, por momentos, pois alguém a havia assustado, uma galinha atravessando um canto da tela.
Esperava-se que as outras cenas tivessem sido entendidas, porém lhes escaparam completamente, porém algo que somente com grande esforço os ingleses conseguiram ver, apanharam imediatamente.
Porquê?
Foram imaginadas toda a sorte de explicações: O movimento rápido da galinha?
Tudo foi feito em movimento de câmara lenta, cuidadosamente, gente andando, pegando latas, fazendo demonstrações, e tudo o mais e apenas a galinha havia sido real para eles. Será que a ave tinha significado religioso? O Prof. Wilson nos descreve o filme:
"Havia um movimento muito lento de um guarda sanitário caminhando, deparando com uma lata com água dentro, pegando então a lata e despejando a água no solo com muito cuidado. Depois disto ele esfregava o solo para que os mosquitos não pudessem procriar ali e colocava a lata num cesto, no lombo de um burro, para mostrar como dispor de lixo. Depois disto as latas eram levadas cuidadosamente num local e enterradas para que não acumulassem água. A galinha apareceu por um segundo nesta seqüência toda.
Havia trinta pessoas na platéia, e diante da pergunta 'O que viram neste filme?' foram unânimes em afirmar: 'Uma galinha'.
O mistério foi desfeito posteriormente, quando questionamos se viram um homem no filme. Eles responderam que sim, porém não viram nenhum sentido nele. Na medida que fomos pesquisando, percebemos que eles não se fixaram em nenhuma cena ou quadro por inteiro: eles exploravam as cenas à busca de detalhes!"
Pesquisando mais posteriormente, concluímos que uma platéia evoluída, ocidental, acostumada a ver filmes, focaliza a vista um pouco à frente da tela de modo a poder alcançar toda a cena.
Ou seja, tem que primeiramente contemplar a cena como um todo (que aquelas pessoas não podiam fazer por não estarem acostumadas), comparar com uma convenção cultural no seu imaginário, e extrair um significado.

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Porque as crianças gostam de desenho animado na TV

O Prof. Wilson não dispunha de uma televisão, mas ficaria surpreso ao verificar como os africanos teriam respondido mais prontamente a ela do que a um filme.
Nos filmes, nós somos a câmara, na televisão somos a tela.
No filme, num cinema, a tela domina nossos sentidos e tem efeito similar ao da realidade. Na TV, a telinha está na realidade mais ampla, abrangemos totalmente seu conteúdo, com sacrifício dos detalhes, para os quais ela é ruim e com um tipo de interação simplificado que demanda pouco do nosso imaginário.
No caso das crianças vendo desenho animado, da mesma forma que os indígenas, elas não aprenderam ainda a convenção cultural, de converter para três dimensões, começo meio e fim, e examinam a realidade de forma táctil, ou melhor, áudio táctil, como os indígenas, e o desenho animado com seus componentes visuais pequenos e reduzidos (comparados com a realidade), não demanda esforço do espectador, criando um equilíbrio vazio e sem compromisso, apenas de sensação de diversão.
Duma certa forma, vemos novelas da mesma forma.
Vemos barbaridades e programas tipo ratinho porque os nossos sentidos nos dizem que aquilo não é real e excita áreas diversas de nosso ser das que seriam excitadas se estivéssemos testemunhando aquelas coisas ao vivo.
É importante dar ênfase ao aspecto da interação dos nossos sentidos com aquela mídia e esquecermos por um momento qualquer outro sentido nisto, quer moral, quer pervertido.
Aí poderemos compreender porque McLuhan teve o impacto que teve ao afirmar:

"O meio é a mensagem"


Pense na lista de símbolos possíveis inicial e associem com esta idéia.
Imaginem as possibilidades dos sentidos, as impossibilidades, as áreas de dúvida e o papel que isto desempenha quando se quer influenciar ou motivar as pessoas a qualquer coisa.
Como nossa cultura é alfabética e visual, examinemos um pouco o sentido da visão, que é essencial para a palavra tipográfica e a "visualização" em três dimensões. Vejamos o que McLuhan nos diz:

Uma sociedade nômade não pode ter a experiência do espaço fechado (100)

Um efeito das culturas não alfabetizadas sobre a percepção sensorial é não euclidiana, ou seja, intuitiva. O efeito mais marcante é a falta de perspectiva. Sem perspectiva não há como representar infinitude e a concepção de espaço fica radicalmente prejudicada ou alterada. Porem existem ganhos, sendo um deles a possibilidade, por exemplo, de cogitar da forma como fez Einstein com sua teoria da Relatividade.

O grande problema da Geometria Euclidiana é a suposição que todos espaços são planos e que tudo ao mesmo tempo é homogêneo - cujas propriedades não se alteram em qualquer local definido no seu espaço - e isotrópico - cujas propriedades não se alteram consoante a direção em que são consideradas, coisa que a modernidade amplamente sabe que não é assim.

Porém, ela esta de tal forma inserida na cultura alfabetizada, que os primeiros matemáticos a cogitarem de espaços curvos e outro tipo de geometria, foram severamente repudiados, sendo o caso de Lobachevski ter sido enterrado sem a presença de seus alunos como forma de protesto contra suas idéias algo que dá a medida em quanto isto afeta a concepção das pessoas.

Creio que vale a pena explorar um pouco mais o que esta em jogo, aplicando esta preocupação com a literatura e a pintura.

Encontrei as seguintes considerações feitas por António Andrade, que frequenta a Licenciatura em Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto:

"Na literatura, por exemplo, Dostoievski é dos primeiros a abordar a dificuldade em conceber o mundo de outra forma que pela geometria de Euclides na sua obra, Os Irmãos Karamazov. Outra obra muito significativa é a Maquina do Tempo de H.G.Wells, que surge em 1895, e antecipa o que Einstein virá propor dez anos depois sobre a quadridimensionalidade espaço-temporal.
Na pintura a reação a estas novas abordagens da natureza também se fazem rapidamente notar. A fotografia "congelou" o tempo e se na Idade Media os artistas não dominavam a perspectiva, os artistas da segunda parte do século XIX recusam-na subvertendo as suas regras e criando distorções espaciais.
O movimento que mais se baseou nas novas percepções espaciais foi o Impressionismo. Os impressionistas não seguiam os preconceitos do Realismo ou da Academia e procuravam sobretudo dar vida própria as suas obras. É justamente por este desejo de quebra que não podemos incluir Manet no Impressionismo pois suas obras são inspiradas da tradição. No entanto o seu trabalho foi fulcral para a pintura impressionista e foi em seu redor que se desenvolveu este estilo. A luz e o movimento tornam-se então o principal elemento da pintura.
Tentando agora encontrar exemplos concretos da posta em prática destas novas teorias na obra de Manet, debrucemo-nos sobre o seu quadro Le dejeuner sur l'herbe (ver anexo 5). Neste quadro surge o primeiro grande choque de perspectiva: não será necessário muito tempo de observação para que o olhar tropece num objeto que, pelo menos visto assim, está em completa desproporção com o resto do conjunto. Trata-se de uma mulher que no fundo da composição se banha e esta é representada exageradamente grande, causando também algum incômodo ao nível da iluminação.


Le dejeuner sur l'herbe

Manet vai mais longe com a abolição do espaço euclidiano no seu quadro Musique aux Tuileries , no qual apresenta uma cena sem foco na qual o observador tem alguma dificuldade em navegar devido a falta de referências. Este efeito é ainda intensificado pela falta de perpendicularidade pois Manet cuidou de curvar todas as arvores e inclinar todos os chapéus nas cabeças masculinas.
Outro estudo aprofundado por Claude Monet, a não confundir com Manet, a partir de 1890 foi o do tempo na pintura. Preocupou-se em representar a mesma composição em diferentes momentos do tempo. As obras que melhor simbolizam este aspecto são sem duvida as Meules de Foin. Para a elaboração destes temas tomava intervalos de tempo que podiam ir de apenas de algumas horas a vários meses. Temos aqui bem evidente o surgimento da quadridimensionalidade na pintura, e esse era o objetivo de Manet: criar uma relação na pintura tão forte entre o objeto e o tempo, como a que até então existia com as três dimensões. É ainda importante notar que tanto Manet como Monet nunca teorizaram nenhuma das suas procuras, apenas as tornaram evidentes e inevitáveis na sua pintura, e esta é a grande diferença de método entre a ciência e arte, sendo que na maior parte das vezes a procura é comum.

Musique aux Tuileries

Meules de Foin

Paul Cézanne é outro pintor a quem devemos uma abertura na forma de ver o espaço pois foi o primeiro a demonstrar que os objetos de uma pintura integram o espaço de trabalho e são afetados pelo mesmo. Até então nunca tinha havido uma preocupação em conjugar objeto e espaço, não havendo implicação deste no movimento dos objetos. Assim como para Newton o espaço e o tempo eram coisas distintas, para os artistas o espaço nunca interagira com a matéria nele colocado. Não será de esquecer também o nome de Van Gogh que colaborou com o impressionismo.

Este foi o início da revolução provocada pelo aparecimento das geometrias não euclidianas. Repito, estes artistas pintavam nas suas telas teorias que Einstein viria a teorizar décadas mais tarde. Todas estas idéias foram levadas a pontos mais extremos no século XX com o Cubismo de Pablo Picasso.

O Cubismo pode ser comparado à invenção revolucionária da perspectiva na Renascença e se Monet introduziu uma representação temporal na pintura, apoiando-se em vários quadros demonstrativos da temporalidade do espaço, Picasso introduz a simultaneidade. A pintura cubista fracionou assim a apreensão da realidade ao apresentar simultaneamente partes de um objeto que não poderiam ser vistas ao mesmo tempo - a percepção deixa de se poder resumir a uma mera soma de partes pela impossibilidade de reagrupar os fragmentos.
Para subverter o paradigma mecânico, que via o mundo como uma clássica seqüência de regras e era então dominante, Picasso procurou inspiração em motivos africanos pois a visão primitiva do espaço e do tempo é bem diferente da euclidiana.
Isto pode ser observado num dos quadros mais famosos e mais representativos do início do cubismo: Les Demoiselles d'Avignon (ver anexo 6) no qual a mulher agachada está representada ao mesmo tempo de perfil e de frente.

Les Demoiselles d'Avignon

Em termos gerais, a grande mudança provocada por Picasso foi sem duvida a ligação (ou re-ligação) entre ciência, matemática, tecnologia e arte.
Assim, a noção de forma fechada concebida num espaço estático e monocular, comumente herdada do Renascimento é agora substituída pela imagem de ritmo, pela pluri-focalidade e pela polissensorialidade.
Victor Vasarely, nascido a 9 de Abril de 1906, leva a idéia de quadridimensionalidade mais longe afirmando que para ele o tempo não é a quarta mas a primeira dimensão pois o espaço é o lugar de um fenômeno que se realiza ao longo do tempo. Sem com isto querer fugir à discussão, é notável o fato de hoje em dia também os físicos preferirem definir o metro-padão a partir de um período de tempo: o espaço será medido em função da constância da velocidade da luz. A matéria fornece o relógio atômico, com seus rigorosos períodos de desintegração.
A nível da evolução cromática é de notar, desde o Impressionismo, a utilização de cores vivas para produzir efeitos de luz. Este novo método, em conjunto com os outros já referidos, faz com que o espaço se transforme num campo de energia lumino-cromática.
Outro aspecto marcante nos artistas não-euclidianos do século XX é a sua vontade de revelar todo o processo pictográfico, que inclui o sujeito, o que acaba por se refletir na sua intenção estética."


Victor Vasarely