Símbolos em Ulysses de James Joyce

Uma coisa que chama a atenção nos esquemas que James Joyce apresentou a Linatti e a Gilbert é que ele coloca como núcleo agregador de idéias Símbolo, mas não coloca Mito, nem metáfora.

Quando, no incio deste trabalho eu coloco Chartres como algo parecido com Ulysses, é porque em Chartres, tudo é símbolo, Mito ou Metáfora e, não por coincidência, com um alto grau de convergência da parte de Joyce no sentido do que está em Chartres.

Que nada mais é do que a quinte essêcia dos conceitos que Campbell explorou maravilhosamente e que logo abaixo vamos ver.

A resenha de John Gross, no NY Times, do Ulysses on the Liffey de Richard Ellmann, menciona, e eu cito:

"And unless we are also willing to accord "Ulysses" the status of Holy Writ (there are those who are), this means that we still have to decide for ourselves how far the myth can be said to work, and how far it tallies with our over-all impression as readers."

Que se não explica porque Joyce não colocou mito e metáfora nos seus esquemas, dá uma boa pista: James Joyce construiu uma metáfora que é um mito moderno e o fez baseado num mito da antiguidade que por sua vez tambem é uma metáfora.

E o fez nos mesmos moldes, que são decifrados por Campbell, como vamos ver.

E, pelas razões que Priestley apresenta na sua análise, os homens e mulheres modernos percebe isto e mesmo que não leiam, não entendam, sabem que existe algo ali que os atrai por dentro.

Para fazer jús aos nossos objetivos, vamos ter que indicar pontualmente como e onde Joyce colcou isto no Ulysses.

Metáfora, Símbolos e Mito

As Metáforas comparam coisas que são diferentes baseando-se em coisas subjacentes que são comuns às coisas comparadas.

Os Simbolos são figuras ou imagens que servem para designar alguma coisa, por meio de desenho, pintura, escultura, expresão figura, objeto fisico, etc.

Os Mitos são fatos ou passagens de fábulas, narrações de fatos fisicos ou morais feitos sob forma simbolica de uma alegoria.

Metáfora

A metáfora, em principio, teria menos importancia para nossa finalidade que os simbolos e os mitos, porém, como a própria historia contada por Joyce em Ulysses é uma metáfora, a compreensão do que é metáfora é essencial para a compreensão da de Ulysses.

Vamos examinar o maior repositório de metáforas que existe, que é a Bíblia, que é principalmente um livro de metáforas.

Quando você não consegue dizer o que algo é, você diz com o que ele se parece.

Pensar sobre a vida pode ser viajar por metáforas e quando eu dizemos que :

"A Bíblia, ao contar a saga do povo judeu no Velho Testamento e a saga de Jesus no Novo Testamento, é um veiculo de contextos existenciais onde praticamente todas as situações que um ser humano pode experimentar aparecem. Estas situações são exemplificadas, avaliadas, discutidas e, sobretudo, aconselhadas."

Estamos afirmando que a Bíblia viaja por metáforas fazendo-nos pensar sobre a vida.

No Dicionário Enciclopédico da Bíblia, encontramos o seguinte verbete:

"A natureza e a vida fornecem ao homem certas imagens e comparações concretas para exprimir os seus pensamentos, sobretudo para esclarecer verdades que transcendem os sentidos. Tal metáfora ora limita-se a uma palavra ou expressão, ora estende-se por uma unidade literária maior (fábula ou alegoria). Os limites entre as diversas formas de metáfora são muitas vezes flutuantes: de um exemplo ou uma comparação passa-se para uma metáfora como indicação misteriosa de coisas ou pessoas. A linguagem da Bíblia é sobremaneira rica em metáforas, o que se explica pelo fato de que foi escrita por orientais, que estavam mais perto da natureza do que o homem moderno e que tinham muito menos disposição para o pensamento abstrato do que, por exemplo, os gregos. Isso se reflete na própria língua hebraica, que é pobre em termos abstratos. Para o nosso gosto, não apenas as partes poéticas, mas também a prosa da Bíblia muitas vezes esta sobrecarregada de metáforas. Os profetas usam não poucas vezes toda uma serie de chavões que provam a existência de uma tradição literária. Essa abundância de metáforas às vezes impede a compreensão exata do texto, porque a relação entre a imagem e a coisa por ela indicada às vezes é bastante arbitrária. Em muitos casos o autor quer, pela convergência e acumulação das imagens, dar ao sentimento, à imaginação e ao pensamento, uma orientação, uma sugestão antes do que um objeto bem definido. Outra dificuldade está no fato de que as metáforas se referem a formas de cultura e costumes de vida tão diferentes dos nossos. Todos os setores da vida, todos os aspectos da natureza forneceram material para as metáforas bíblicas, mas o ambiente e a cultura do autor tiveram um papel muito especial. Os trechos mais antigos refletem o nível cultural do seminomade ou do agricultor em Canaã (p.ex. o cântico de Débora). No tempo dos reis é a vida militar e a política que aparece mais no primeiro plano O pastor Amós descreve nas suas profecias a natureza; Isaias, o profeta da capital, tira as suas imagens também da vida urbana. As parábolas de Jesus não se podem compreender plenamente sem algum conhecimento da vida na roça, na Palestina. S. Paulo, nascido numa cidade usa para as suas metáforas, de preferencia, os diversos setores da cultura greco-romana (esportes, vida militar, jurisprudência). Da linguagem figurada propriamente dita, isto é, metonimia ou comparação, devemos distinguir o pensar (contemplar) e falar em imagens representadas como realidade; isso forma um gênero literário à parte. Basta lembrar as visões proféticas (por Ex. as visões de Zac) e apocalípticas. O apocalipse de S. João não é uma metáfora, mas uma visão continua de imagens, uma contemplação de realidades visionarias. Esse modo de contemplar e se exprimir, tão importante para a compreensão da mentalidade bíblica, encontra-se também em livros que não pertencem diretamente ao gênero visionário. Também certas sentenças de Jesus no Quarto Evangelho, (Eu sou a Luz, A videira verdadeira, etc.) não pura e simplesmente o que nós chamamos de linguagem figurada."

Esta frase deveria figurar no quesito Técnica, dos quadros de Linatti e Gilbert, mas no fundo, a Técnica de Joyce é falar por metáforas, usando simbolos e mitos para expressar o que quer dizer.

Símbolos

A idéia de símbolo normalmente esta associada com figuras, marcas, diagramas, imagens, etc., porem, qualquer palavra escrita é um símbolo. As palavras são símbolos. A maioria das línguas ocidentais faz uso do alfabeto greco romano, que é um conjunto de símbolos.
Outro conjunto de símbolos, não associado como tal normalmente, são os algarismos que compõem o sistema decimal. Podemos elaborar símbolos mais complexos com os símbolos-palavras e os símbolos-numeros. Uma formula é um símbolo. É possível também símbolos em três dimensões, como por exemplo as catedrais, as pirâmides, a esfinge, a torre Eifel, etc.
Se considerarmos o tempo como uma quarta dimensão, podemos ainda ter símbolos mais complexos ainda, tal como suposta volta do Cristo, a idéia do inferno ou paraíso após a morte, as próprias pirâmides, etc. O numero de dimensões não dá a complexidade do símbolo e mesmo não tem nada a ver, pois em duas dimensões caracteriza-se perfeitamente a dinâmica do tempo, ou a perspectiva de espaço, que tem três dimensões para todos efeitos práticos.

Já foi discutido, ou está discutido, neste trabalho a questão de simbolos em:

Nas Iluminuras

Culturas orais e alfabéticas

Culturas orais e linguagem gráfica

Porém, para compreensão de símbolos, o livro "O Homem e seus Símbolos", com um capítulo de C.G.Jung e editado por M.L.von Franz, J.L.henderson, J.Jacobi e Aniela Jaffé, é imbativel (Editora Nova Fronteira)

Não me é claro se viola direitos autorais, mas está disponivel como sempre esteve, e eu ja via este livro na Internet ha bem uns 10 anos.

Mito

No livro acima, o segundo capítulo, escrito por Joseph L.Henderson discute mito, porém, a pessoa por excelência para se ver isto é Joseph Campbell. O verbete que criei clicando seu nome é de material originalmente em Inglês.

Dentro de Mito, considero excelente o texto (e a saga que ele conta) de: Cupido e Psyche: Interpretação do Mito