Buck Mulligan

Stephen Dedalus esta morando temporariamente numa Martello tower, na praia em Sandycove e ele sente que seus amigos o estão querendo colocar para fora, o que ele faz sem intenção de retornar. Buck Mulligan é um estudante de medicina que mora junto com ele, ou com quem ele mora junto, e nesta cena inicial do começo do dia, imita um padre aproximando-se do altar, canta o introito e ergue a tigela de pincel de barba numa paródia como se fosse o calice da missa católica.

Ao lado a Martelo Tower, abaixo Sandycove, perto de Dublin, onde esta localizada. Ao lado o verdadeiro Buck Mulligan, Oliver St. John Gogarty. Acima, T.P.Mckenna, no filme de Joseph Strick, de 1967

Da escada que leva até la em cima, Stephen Dedalus cogita da cena que é carregada de simbolismo, que pode ser sumarizado assim:

bearing

Ao invés de carrying, para indicar gesto solene, num truque tipicamente joyceano cf.Senn, Fritz, Joyce's dislocutions. Essays on Reading as Translation, p 33

bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed

um vaso de barbear, sobre o qual se cruzavam um espelho e uma navalha

O fato de que o espelho e navalha estão "cruzados" obliquamente anuncia que em breve Mulligan irá parodiar um padre católico celebrando a Missa. Mas esses dois objetos também sinalizam obliquamente as tensões na relação entre Mulligan e Stephen Dedalus - tensões que surgem de forma física muito concreta como a experiência de ver a si mesmo como um objeto (o espelho) ea ameaça de lesão corporal (navalha)

Introibo ad altare Dei

As primeiras palavras de Mulligan iniciam uma paródia de zombaria da missa católica, embora, em retrospecto, o palco foi montado por sua aparência "imponente" (Stately) levando uma bacia em que um espelho e uma navalha estão "cruzados." Em seu ritual simulado, a bacia de barbear representa o cálice (ou cibório ou píxide) que mantém o vinho que irá tornar-se mudado para o sangue de Cristo. A frase em latim significa "Subirei ao altar de Deus".

Mulligan faz a oferenda a uma congregação imaginaria do "corpo e alma e sangue e chagas" (body and soul and blood and ouns) como se Christo fosse Christina, isto é, uma mulher,o que remete às missas satanicas que eram celebradas sobre um corpo de mulher nua.

Na missa, esta parte da celebração é uma repetição da Ultima Ceia:

“Pegando o cálice, deu graças e disse: 'Tomai este cálice e distribuí-o entre vós (...) Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: 'Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim'. Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: "Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós...".

A intenção não é comemorar, mas fazer Christo presente, vivendo mais uma vez.

A Missa aqui é a "ordinaria", em Latim, anterior a 1962, quando caiu o Latim.

A Cor amarela do roupão, porque está desatado (ungirdled), indicam heresia.

Equine face& pale oak hair - face equina e cabelo cor de carvalho palido. Sugere o Cavalo de Troia, traição.

Esta abertura tem que ser contextualizada dentro da Simetria do Ulysses de Homero e cito o que ja foi explicado lá:

A Simetria deste capítulo deve ser contextualizado em Paralelo com Homero<, que é visto pressionando-se sobre. Cabem aqui os comentários:

The narrative structure that Homer used to tell his tale can be jarring if you are unprepared. The story of Odysseus would have been well-known by the time Homer crafted his definitive version, so he plunges in, fully expecting that the audience is already familiar with the hero. As with The Illiad, he begins by invoking the muse:

Sing to me of the man, Muse, the man of twists and turns
driven time and again off course, once he had plundered
the hallowed heights of Troy.
Many cities of men he saw and learned their minds,
many pains he suffered, heartsick on the open sea,
fighting to save his life and bring his comrades home.
But he could not save them from disaster, hard as he strove –
the recklessness of their own ways destroyed them all,
the blind fools, they devoured the cattle of the Sun
and the Sungod wiped from sight the day of their return.
Launch out on his story, Muse, daughter of Zeus,
start from where you will – sing for our time too.

The adventure with the Cattle of the Sun is near the end of Odysseus’ suffering abroad, yet it is one of the first things Homer tells us. It is a narrative technique called in medias res, which means to begin “in the middle of things.” As a result, the majority of Odysseus’ most famous adventures are told in a flashback sequence that spans four lengthy chapters. We also bounce between what it happening with Odysseus abroad and what is occurring with his wife Penelope and son Telemachus back in Ithaca. Additionally, there are a few abrupt transitions to the gods conversing on Olympus. If you feel lost at any point while you read, SparkNotes has an excellent breakdown of the book that you can view for free on their website.

Como nos informa o Prof. Don Gifford, o livro I da Odisséia de Homero abre com a invocação da musa(acima, com explicação que Gifford não fornece e que é oportuna, especialmente para a simetria que pretendemos) seguido de um relato de como o conselho de deuses no Olimpo, presidido por Zeus, decide que é hora de Odisseu retornar para casa. A cena então muda para Ithaca onde encontramos Telemachus, filho de Odisseu, "um garoto sonhando com a volta do seu pai", nas palavras de Fitzgerald. O garoto está revoltado e infeliz, ameaçado com a traição e perda de posição pelos pretendentes que cercam sua mãe, Penélope, durante a ausência de seu pai. Estes homens arrogantes são liderados por Antinous e Eurymachos. Telemachus procura conselho dos deuses e Pallas Atenas lhe é revelada como sua protetora. Ela o aconselha a viajar em busca do seu pai.

As interações ocorridas em Ulysses de Joyce, neste primeiro capítulo, seguem a mesma sequência, que nos vão caindo paulatinamente antes de ficarem claras como se pode ver mais abaixo na Interpretação Final e o que se passa na nossa mente é mais ou menos o seguinte:

The episode opens with Buck mocking the actions of a priest at mass, an affront to the previously devout Dedalus, and an image that highlights Buck’s disrespectful and boisterous nature. Buck calls Stephen a “fearful Jesuit” and pokes fun at the Greek origin of his last name, calling it “absurd.” Buck nicknames Stephen “Kinch,” meaning knife-blade, which opposes Buck’s own “stately, plump and “ungirdled” appearance. Buck’s loud and theatrical gestures as he mimics the priest contrast with Stephen’s slow, weary, and quiet ones. Buck’s “light” appearance—he is wearing a yellow robe, is covered in white shaving cream, has “white teeth glistening here and there with gold points,” and has “light untonsured hair, grained and hued like pale oak” underscores Stephen’s dark, somber appearance. Buck mocks Stephen for wearing second-hand clothing, for continuing to wear only black as he mourns his mother’s death, and for his infrequent bathing patterns. The physical contrasts between the two further highlight the alienation and sobriety that define Stephen.

After Buck concludes his performance of the mass, Stephen asks how much longer the Englishman Haines will be staying with them in the tower. The presence of Haines immediately brings forward the tension between English and Irish identities—wherever Stephen goes he cannot escape the haunting force of the Englishman. Buck backhandedly criticizes Stephen by telling him that Haines thinks that he is not a gentleman. Stephen worries about the violent nature of Haines, who screamed about a black panther in the middle of the previous night. “You saved men from drowning. I’m not a hero, however, if he stays on here I am off,” Stephen tells Buck. Haines poses an even greater threat to Stephen, the artist, than to Buck, the strong and “heroic” doctor.

Buck, Haines, and Dedalus exit the castle and walk along the water. Buck continues his theatrical gestures as he taunts Stephen and chants a song, “the ballad of joking Jesus,” before he walks ahead. Stephen and Haines are left to one another and engage in a calm conversation. Stephen accepts a cigarette from Haines, a friendly, accepting gesture, even though the cigarette case, silver with an emerald is a symbol of the small gem that Ireland is to the dominant England, as pointed out by Blamires (p.7). Stephen realizes that the “the cold gaze which had measured him was not all unkind” and he discusses the servitude he feels to his English and Italian masters and eventually to the “imperial British state and the holy Roman catholic and apostolic church.” Haines is understanding of Stephen and concludes, “it seems history is to blame.” Haines’s statement cements the English dominance Stephen experiences and separates Haines, though he is an Englishman, from the damage that has been done.

Haines and Dedalus catch up to Buck who undresses and gets into the water. Haines says he will wait to go in. Buck demands that Stephen give him the key to the tower. He also demands an extra two-pence from Stephen. Stephen places the key and money on Buck’s clothing and begins to walk away. Buck tells Stephen to meet them at “The Ship” at noon for lunch. Stephen, however, has already decided that he will not sleep in the tower that night. His statement “Home also I cannot go,” underscores the sense of lostness and aloneness that fills him. Stephen has no true home to return to. Buck has taken away Stephen’s final scraps of a home life. Buck has seized Stephen’s physical belongings: his handkerchief, his money, his space in the house through Haines’s presence, and finally his key. His disrespectful nature and the abrasive, intrusive way with which he interacts with Stephen forces Stephen to face himself and the actions that haunt him. Through Buck’s usurpation, Stephen must leave the tower and face the world outside.

Contextualizei estas interações com imagens visuais e comentários em:

A modern contextualization comparing with the functioning of a computer

Quando ligamos um computador, para ele iniciar seu funcionamento é lançado mão de uma forma de acessar inicialmente o que está lá dentro que é chamada de "bootstrap".É uma metáfora comparando quando fossemos usar uma bota, para conseguirmos vestí-la e podermos caminhar, como fazemos inicialmente. Tipicamente o "bootloader" carrega o principal sistema operacional para o computador funcionar. A função do bootloader é carregar outros dados e programas que então serão executados. É aquele tempo inicial que você espera a máquina se arrumar para você conseguir usá-la

O capítulo I de Ulysses é o boot strap que ele usa para acessar outras informações, lógicas, formas de entender, cenários, contextos, enfim tudo que ele selecionou para passar para os leitores e o que ele pensa sobre tudo aquilo que ele está "strapeando" e colocando diante de nós. No caso, além de Homero, ele quer ligar com seu livro Portrait of the Artist as a Young Man com Ulysses, que ele está abrindo e tambem questionar dis origem, tanto pessoal como do grupo que originou, os irlandeses. Aliás, ele mistura estas duas coisas. É muito importante porque ele lança ai um tipo de "framework", ou esquema referencial, em que ele não entra pelo nacionalismo, inclusive porque não confia nele nem pelos aspectos óbvios que é a origem gaélica, isto é, não tem nada de "volta às origens". A origem é aqui e agora, e isto é a Europa que ele constatou na França, na Italia, e na qual ele quer se inserir com o mesmo status.

O Sistema operacional de Joyce é o Ulysses de Homero. O que ele quer "strapear" está descrito na tabela acima, de forma limpa e separados dentro de uma lógica de funcionamento que percebemos, auxiliado por uma análise com critérios semióticos de Gilbert, Gifford, Blamires e outros.

Esta idéia, aliás é confirmada por Stuart Gilbert, pg 3, do seu Ulysses a study: "The first parte (three episodes) serves as prelude to the narrative of Mr.Bloom's day, the main theme, and may be regarded as a 'bridge work' between the author's earlier work, the Portrait of the Artist as a Young Man and Ulysses."

O capítulo abre com uma zombaria da missa por Buck Mulligan. Em termos de Homero, Mulligan é Antinous, líder dos traiçoeiros pretendentes e ele, junto com o Inglês Haines, vão tomar posse da chave da Torre, símbolo do seu "home", que em Inglês pode significar residência, ninho materno, família, terra, país, habitat, enfim, tudo que conjuga a origem de Dedalus. No romance "Retrato do Artista quando Jovem", Joyce o fecha quando é mandado chamar da França, pais onde ele havia se dirigido à procura de liberdade, e nesta cena inicial de Ulysses, a discussão sobre a morte da mãe indica que ele está retornando para seu pais. Sua recusa em rezar no leito de morte da mãe vai persegui-lo com um sentimento de culpa que vai permear todo o livro. Stephen, como Telemachus e Hamlet, está procurando por um pai. Não o pai biológico, pois na verdade ele tem Simon por pai e quem ele verdadeiramente perdeu foi sua mãe, mas um pai espiritual. Este pai - "mãe" espiritual ele vai chamar em SCYLLA E CHARYBDIS de, "a mistical estate", sendo que mistical tem a mesma raiz que em nossa lingua e é óbvio, mas "estate", significa herdade, propriedade, bens, classe social, época, período. Por exemplo, low estate quer dizer humilde. High estate, alta condição social. Vale dar uma lida nos estates of realm na Wikipedia.

O nome Dedalus também "branch and link", brancha e liga e não ha tradução satisfatória para definir esta operação, com outro par de filho e pai, Daedalus e seu filho Icarus. Daedalus construiu o labyrinto onde vivia o Minotauro. Esta historia é maravilhosa e tem uma amplitude tão grande que a fuga de Daedalus e seu filho Icarus pela invenção da asa para sair voando e a desobediência que o leva perto do sol, derretendo-a e o derrubando, tem desmembramentos que podem ligar até a origem de Eros e Psique, na qual é usada uma metáfora semelhante. Joyce quer fugir da ligação que tem com o UK e pairar acima de sua estirpe judia, junto com sua raça irlandesa acima de todos e juntos com as outras raças européias, uma vez que o back ground mítico é o mesmo da Europa.

O símbolo "heir" - herdeiro e a última palavra do episódio ("Usurpador") levanta questões de paternidade e herança (criativa, espiritual, mítica) que irá ecoar através do livro. Também levanta o tema de expropriação. Podemos ligar isto com a tomada da chave por Mulligan, ou as roupas de sacerdote (padre) que Stephen acabou de perceber, simbolizando a Igreja, que como o Estado, é um símbolo de poder, hipocrisia e imposição para Stephen ("I am a servant of two masters... an English and an Italian" - sou servo de dois senhores... um Inglês e um Italiano), referindo-se ao colonialismo Inglês e ao catolicismo romano. Estas duas forças exploraram a Irlanda e a deixaram como "old shrunken paps" velhas tetas encolhidas. A palavra "paps", claro, inicialmente significa fonte de leite materno de uma mulher. Mas "paps" também tem a definição adicional de "idéias inúteis ou simplistas" - significam que os irlandeses mexiam com querelas inúteis, mesquinhas e ambições rasas. O "old" indicava que os irlandeses faziam isto há séculos e indica também exaustão.

Apesar de toda a densidade de alusões culturais e literárias e o fato de que a narrativa confunda um pouco a possibilidade de distinguir se a linguagem é "voz interna" ou explicita e pareça muito estar ordenada através de dispositivos associados com monólogo interno, o estilo do episódio é bem convencional, como se fosse uma continuação do Retrato do Artista Quando Jovem. Joyce o fez bem intencionalmente, pois definiu isto como "estilo inicial" e assim se referiu numa carta a Harriet Shaw Wever:

"I understand that you may begin to regard the various styles of the episodes with dismay and prefer the initial style much as the wanderer did who longed for the rock of Ithaca. But in the compass of one day to compress all these wanderings and clothe them in the form of this day is for me possible only by such variation which, I beg you to believe, is not capricious". (Letters, 6 August, 1919)

"Eu entendo que você pode começar a considerar os vários estilos dos episódios com consternação e preferir o estilo inicial tanto quanto o usado para descrever o andarilho que ansiava pela rocha de Ithaca. Mas, na extensão de um dia para comprimir todas essas andanças e vesti-las na forma deste dia para mim só é possível através dessa variação, que lhe peço para acreditar, não é capricho". (Cartas, 6 de Agosto de 1919)

 

IV)Indicando no texto (Gifford e outros)

Ver em Telemachus

Agrupados em:

Buck Mulligan

Epi oinopa ponton

V)Marshall McLuhan

Horario, Cena, Órgão, Arte, Cores, Símbolo, Técnica

Horario

O leitor, ou leitora de Ulysses, deve primeiramente internalizar uma série de condicionantes que Joyce impôs e que tudo indica ele quis omitir e para perceber, ha que se debruçar sobre tudo que está ali e pesquisar até fazer sentido. Os etudiosos que se arvoram em vencer este obstáculo frequentemente revelam sentimentos do tipo que Richard Ellmann aponta e que eu grifei em vermelho, One of the areas of Ulysses that has often been overlooked, however, is that of the various functions played by the passage of time and awareness of time in the novel, Aliás, o leitor ou leitora deve ler o artigo do qual extraio esta frase onde é feita uma discussão deste e de outros obstáculos. Ellmann apenas apontou o elemento do tempo em varios pontos da obra, mas não contribuiu tambem efetivamente para o que ele cue ele chama de the decipherment of obscurities. Se examinarmos as disponibilizações, uma delas, em forma de blog, chama a atenção pelo equívoco, o grau de confusão, o pedantismo e a falsa erudição, que isto gera e não especifico por razões óbvias no caso deste nosso trabalho ficar público.

Se você foi lá e está voltando, deixe de lado aquela Africa que o McLuhan faz com a questão do tempo na perspectiva medieval, que está lá porque não tem outo jeito e, para efeitos práticos, a meu ver, as noções que J.B.Priestley associadas com as que fiz para o filme "The Vow" são a melhor forma de encararar este artificio de Joyce, não só aqui, como em todo o livro.

Talvez para este primeiro capítulo a questão do tempo possa ser encerrada indicando que o leitor ou leitora deduz o horário pelas ações que se passam, um artificio notado por varios estudiosos.

Cena

Não ha muito que discutir, porém, este item não existia no esquema de Linatti e foi acrescentado no dado a Stewart/Gorman. Para ser honesto, a impressão que me ficou depois de digerir toneladas de informação é que Joyce ao sentir a reação da maioria das pessoas, que primeiramente achavam incompreensível, posteriormente obsceno, deve ter percebido que tinha que fazer alguma coisa para os leitores entenderem que as intenções dele eram sérias. E então revestiu a apresentação com estes esquemas, privilegiando o aspecto linguístico, que é coisa bem a gosto de intelectual. A verdadeira essência da obra, que é que ele criara um épico em moldes de eternidade, não consigo entender direito porque, ele escondeu.

Órgão

Outro aspecto com todo o jeito de "enfeite linguístico", já que é elemento de estudo neste sentido. Encontra-se pouco sobre isto e as considerações de Alice Rae e Charles Peake valem para este e todos os outros capítulos. Como se pode ver lá, segundo Peake, a razão de não haver órgaos relacionados com os três primeiros capítulos é porque se passa fora dos limites da cidade e relata a experiência de um jovem solitário.

Arte

Se formos à Encyclopaedia Britannica e procurarmos por Arte, a explicação nível Micropaedia, ou "Small Level", veremos:

Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, escultura, pintura, escrita, música, dança e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e idéias, objetivando um significado único e diferente para cada obra.

Para podermos trabalhar objetivamente e podermos atingir a "Interpretante Final", que terá que ser uma idéia completa, total e sobretudo, fiel, às idéias expostas por Joyce, ainda que ele o tenha feito de forma enigmática, beirando a misteriosa. Na impossibilidade de estabelecermos limites precisos, vamos ter que fazer um compromisso e traçar uma linha que é impossível ser reta e clara, ou, melhor dizendo, que pudesse originar um mapa preciso e detalhado. O que podemos fazer é saber que a terra é redonda, que existem continentes e mares, na terra andamos, no mar navegamos e no ar voamos. Ou seja, teremos um perfeito sistema de coordenadas, porem com um grau de imprecisão embutido que foi deliberadamente colocado neste mundo criado por Joyce. E no fundo, é seu maior charme...

E isto não vai atrapalhar em nada o nosso objetivo! Faço minhas as palavras de John Gross, critico do New York Times, que em 1954 abre sua crítica para talvez a mais respeitada análise dos esquemas de Joyce que se conhece, (talvez não hoje, mas com certeza em 1954) que é Ulysses on the Liffey, de Richard Ellmann:

Ninguém pode ignorar completamente os elementos de mito em "Ulysses", mas os leitores mais comuns, em oposição aos profissionais Joyceanos, estão, provavelmente, satisfeitos em aceitar o livro deforma bastante simples, como uma fatia de vida com ornamentos mitológicos. E não é de se admirar se eles procurarem orientação naquilo que parece ser o óbvio ponto de partida, o comentário quase oficial por Stuart Gilbert. Em meio à imensa literatura que tem crescido em torno do romance, a exposição de Gilbert destaca-se como uma espécie de constrangimento. Ele foi supervisionado, bem como autorizado pelo próprio Joyce; dadas as circunstâncias, mesmo o mais obstinado adversário da Falácia Internacional certamente hesitaria em deixá-lo de lado. No entanto, o que ele (Ellmann) revela não nos inspira e no seu todo, é sem inspiração: um plano-mestre mecânico, com cada episódio presidido por símbolos atribuídos como se fossem signos do zodíaco, e com as diversas analogias subjacentes - homérico, fisiológica, etcetera-- trabalhado em mínimos detalhes e, em muitas vezes, grotesco. Uma obra de referência indispensável, talvez, mas também uma interpretação de "Ulysses", que muitos admiradores se sentiriam muito aliviados em dispensarem, se puderem.

Com certeza, vamos conseguir localizar de forma muito precisa os "ornamentos mitológicos, os paralelos e a simetria com Homero, o que significou lá e o que significa aqui, a questão do "timing" não atrapalha em nada e, cena, órgão, arte, cores, símbolo, quando forem importantes ou essenciais para compreender alguma idéia que Joyce colocou lá, iremos indicar.

Técnica

O critério que usei de separar em dois tipos de técnica, uma linguística e outra sob as idéias de McLuhan.

Q. E. D.